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54% das mulheres apontam estar há mais de cinco anos em situação de violência sem denunciar

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Violência psicológica, moral, física, patrimonial e sexual. Em ordem decrescente estes são os tipos de violações que acometeram as mulheres que procuraram o Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem) da Defensoria Pública do Estado do Ceará. Essa pesquisa foi feita por amostragem com 200 mulheres que receberam assistência jurídica, psicológica e social da Defensoria, em Fortaleza, entre janeiro e julho deste ano.

De acordo com o relatório divulgado nesta segunda-feira (5 de agosto), a mulher vítima de violência que chega ao Nudem tem entre 26 e 35 anos de idade (36,5%), possui Ensino Médio completo (30%), mas não possui renda fixa (31%) embora exerça trabalho remunerado (29%), sendo 45% delas sobrevivem com até 2 salários e outras 31% sobrevivem com auxílio do programa Bolsa Família.

A pesquisa traz ainda um recorte geográfico da violência contra mulheres em Fortaleza. A maioria vem da Regional V (27%), seguido das Regionais VI (22,73%), IV (18,18%) e III (13,64%).

Outro dado que impressiona é o tempo em que essa mulher está submetida a uma situação de violência, em que 54% das mulheres apontam estar há mais de cinco anos nessas condições sem denunciar, e apenas 1% há menos de seis meses. A maioria, 60% delas, apontam o medo como vetor para se manter em silêncio, além da dependência emocional (56%). E mesmo após o fim do relacionamento, os episódios violentos voltaram a se repetir na vida de 77% dessas mulheres.

O estudo aponta ainda o perfil dos agressores dessas mulheres. São ex-companheiros (43%) que praticaram o ato violento em ambiente doméstico (58,5%), com a presença dos filhos (82%) durante a agressão. Entre os motivos que desencadearam a cena, estão a ingestão de álcool, ciúmes, uso de drogas e separação.

As informações são colhidas a partir de um formulário preenchido pela equipe multidisciplinar do Nudem. Os dados trazem informações de mulheres que buscam atendimento pela primeira vez na instituição.

O último relatório sobre o tema havia sido foi divulgado pelo Nudem no ano passado e teve pouca alteração de perfil: a maioria jovens, entre 26 e 35 anos de idade, pardas, solteiras, com ensino médio completo e exercendo trabalho remunerado.

Lei passa a ser mais conhecida – Mais do que um panorama sobre o ciclo violento imposto a muitas mulheres, os dados fornecem ainda um indicativo da necessidade de ampliação do serviço de proteção. Diante de uma demanda maior, “é preciso continuar falando sobre o tema e estimulando as denúncias”, segundo a defensora pública e supervisora do Nudem, Jeritza Braga. “A Lei Maria da Penha trouxe muitos avanços e isso se deve a uma maior divulgação dos direitos, da atuação da Defensoria Pública e de todo o aparato de proteção”, explica.

Ao longo de doze anos desde a sanção da lei, a defensora acredita que a educação em direitos avançou no campo da conscientização. “As mulheres que nos procuram estão mais comprometidas com a causa, sabem que a situação é absurda e que existe um aparato de proteção à disposição. Isso é uma consequência positiva da lei”.

IMG_1844De lá pra cá, outros indicadores foram sendo inseridos, como o impacto na família. Segundo a psicóloga, Úrsula Góes, da equipe psicossocial do Nudem, trata-se de um fator revelador do histórico de violência familiar. “Quando crianças e adolescentes crescem em ambientes de agressão física e psicológica, eles podem naturalizar e até perpetuar essa cultura nociva. É o que chamamos de ‘filhos da violência’. As pessoas acabam reproduzindo comportamentos do pai agressor ou da mãe violentada”, explica a psicóloga.

Casa da Mulher Brasileira – O Nudem funciona na Casa da Mulher Brasileira. O equipamento federal integra em um só espaço todos os serviços de proteção à mulher como Delegacia, Defensoria, Ministério Público, Tribunal de Justiça e outros serviços em rede. Em funcionamento há 45 dias, a Casa já assistiu 1.315 mulheres.