Posso ajudar?
Posso ajudar?

Site da Defensoria Pública do Estado do Ceará

conteúdo

Das 96 famílias atendidas pelo Rede Acolhe, 76% dos parentes das vítimas são mulheres

Publicado em

WhatsApp Image 2018-07-17 at 14.41.31

A Defensoria Pública do Estado do Ceará divulgou durante II Seminário sobre Atenção Integral às Vítimas da Violência os dados com o perfil do público atendido pelo programa Rede Acolhe, que completou um ano de atividades direcionadas aos familiares de vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI), em Fortaleza. Durante o primeiro ano do programa, a equipe multidisciplinar da Rede Acolhe realizou o acompanhamento a 96 famílias de vítimas de homicídios, das quais as mulheres representam maior parte dessas vítimas. Mães, avós, irmãs, tias e primas representam 76,1% da referência familiar aos atendimentos da Rede Acolhe em um ano de atendimentos e as mães, chegam a alcançar 48,6% destes dados.IMG_0982

A ação da Defensoria tem como objetivo assegurar a assistência jurídica, propiciando maior esclarecimento quanto aos direitos, bem como acompanhamentos dos processos e inquéritos e processos dos Crimes Violentos Letais Intencionais, além de garantir a assistência psicossocial das famílias das vítimas de CVLI e das vítimas de tentativa de homicídio, contribuindo para a diminuição dos danos sociais e psicológicos causados pela violência.

Em um recorte geográfico da cidade, o Grande Bom Jardim (Regional V) representou 31,3% dos casos acompanhados, por isso o II Seminário acontece na região, para que os moradores possam se apropriar do programa e a equipe entender a realidade do local, interagindo com os participantes. O Rede Acolhe acompanha casos acompanha homicídios ainda na Regional I (20,9%), Regional II (16,7%), Regional III (6,3%) e Regional VI (21,9%).

Outro dado alarmante é relacionado à saúde mental. Um terço das pessoas atendidas pelo programa – 33,3% – passaram a fazer uso de medicamentos psiquiátricos para enfrentar a depressão. O Rede Acolhe faz os encaminhamentos para a Rede e acompanha estes quadros. Entre os assistidos, quase 30% passou a fazer uso de álcool e drogas e 17% pensou em suicídio.

IMG_0921Além disso, chama a atenção da equipe multidisciplinar é os riscos e ameaças à vida que as vítimas continuam submetidas: 49,3% tiveram pelo menos outro parente ou amigo próximo assassinado antes ou depois do fato e 35% disseram sofrer ainda ameaças, o que acarretou 20,7% de evasão escolar das crianças e jovens e 22,8% mudanças de endereço. “Uma característica que nos chamou a atenção é que as pessoas vítimas de crimes violentos letais estão em situação de extrema pobreza e essa condição de vulnerabilidade se aprofunda a cada nova vítima, porque são geralmente pessoas jovens que morrem, as mães entram em depressão, os outros irmãos saem da escola e as mulheres se prejudicam no mercado de trabalho e, às vezes, aquele núcleo familiar acaba perdendo benefícios sociais, aumentando o grau de vulnerabilidades”, destacou a coordenadora do programa Rede Acolhe e defensora pública, Gina Moura.

IMG_0938 O levantamento mostra o perfil econômico dos parentes das vítimas de homicídios acompanhadas, onde 71% das famílias vivem com até um salário mínimo e 50% recebiam bolsa-família. Com o homicídio atravessando aquele núcleo, 30,9% dessas pessoas tiveram perda de renda e 16,3% perderam benefícios sociais após o homicídio. “Quando identificamos famílias que têm direito a receber algum benefício previdenciário, mas que não recebem ou então perderam porque não conseguiram dar entrada na demanda, fazemos os pedidos ou então, por meio das parcerias com toda a Rede de Garantia de Direitos, fazemos o encaminhamento aos órgãos competentes”, destacou Thiago de Holanda, coordenador do programa.

Os dados apresentados mostraram que mesmo 64% das famílias apresentarem o interesse de acompanhar o processo, 90% das famílias atendidas não tiveram assistência jurídica depois do homicídio e 72,9% não acompanhavam o processo ou inquérito. Além da ausência da assistência jurídica, 76% não tiveram apoio comunitário após o homicídio e 78,3% indicam que não receberam visitas de serviços públicos. “Diante dessa desamparo das políticas, estamos em diálogo com os equipamentos públicos para estreitar os laços e estabelecer uma política pública institucional que trabalhe com a questão da violência de forma mais próxima de quem precisa. Este é o papel do Acolhe, fortalecer a assistência em rede e olhar cada caso individualmente”, ressaltou a defensora.

O programa está integrado ao Núcleo de Assistência ao Preso Provisório e às Vítimas de Violência (Nuapp). Desde seu início, cerca de 500 pessoas já foram beneficiadas com o acompanhamento, que é realizado por uma equipe multidisciplinar que tem sociólogo, psicólogos, assistente social e defensores públicos. O programa tem parceria com a Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC).