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De padrinho a pai: Uma relação construída com bases sólidas no amor

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IMG_0583“Tudo começou quando eu percebi que não tinha mais vontade de ir deixá-lo na segunda-feira pela manhã. Dava dó olhar para ele sempre que a gente se despedia no portão do abrigo, aquilo era doloroso, eu precisava fazer algo” destaca o supervisor de loja,  Thiago da Silva, de 36 anos. Ele se inscreveu como voluntário do Programa de Apadrinhamento, portaria do Tribunal de Justiça que atende a uma requisição da Defensoria Pública e permite que pessoas tenham vínculos afetivos, econômicos e sociais com as crianças acolhidas nos abrigos institucionais da capital.

Foi assim que Pedro, na época com 11 anos ganhou um padrinho. Dezessete meses se passaram e os laços entre os dois tornaram-se cada vez mais fortes, as visitas aos fins de semana e em alguns feriados, já não supriam ao sentimento que existia em ambos. Thiago se inscreveu no Cadastro Nacional de Adoção. Foram nove meses para que a decisão da juíza Alda Maria Holanda Leite conferisse o que os dois sonhavam: Pedro, agora tem um lar definitivo e recheado de afeto.

“Eu realizei meu sonho. Meu sonho não era só ter uma casa para morar, era morar aqui com eles” relata Pedro, feliz com a casa nova e a família que ganhou. O adolescente conta que foi apadrinhado por Thiago com uma ajuda do destino, como ele mesmo descreve. Pedro mudou de abrigo exatamente no período em que o pai conseguiu entrar no projeto, e por coincidência, os caminhos dos dois foram cruzados, de tal maneira que seria impossível reverter.

O adolescente passou por três abrigos durante sete anos, sua trajetória entre um e outro começou quando ele tinha apenas seis anos. Em 2011, Pedro foi encontrado sozinho em casa, foi feita a denúncia e, a partir daquele momento, ele ficou em acolhimento. Primeiro no abrigo Casa de Passagem, depois Madre Paulina, Casa do Menor São Miguel Arcanjo, e depois novamente Madre Paulina, até fevereiro de 2018, quando Thiago revelou que o levaria finalmente para casa.

IMG_0596A relação entre Thiago e Pedro vai além de pai e filho, eles tornaram-se bons amigos. Pedro, torcedor do Fortaleza, e Thiago, alvinegro, transformam diariamente suas diferenças em pontos em comum, como a paixão pelo futebol, que os une, assim como o vídeo-game. Para Thiago, o jeito de Pedro foi o que o encantou, ainda no início do apadrinhamento. “Desde o início eu sabia que nós nos daríamos bem, eu passei a sentir falta quando ele não podia vir para cá no final de semana”, ressalta.

Francisca dos Santos, avó de Pedro, ajuda a cuidar do garoto. Para ela, a presença do menino definitiva na casa é essencial, uma vez que toda a família já havia se apegado a ele. “Eu incentivei o Thiago a todo o momento para adotar, eu chorava sempre que o Pedro tinha que voltar para o abrigo depois do final de semana com a gente”. De acordo com agora avó, hoje ela já percebe uma mudança no comportamento do neto. “Ele sempre foi um menino muito bom, aos poucos está perdendo a timidez e se adaptando a rotina da casa. Deve ser estranho também, porque aqui todas as atenções são para ele, como em toda casa normal com criança, diferente do que ele viveu esse tempo todo no abrigo”, conclui emocionada.

O defensor público Adriano Leitinho, atuante no Núcleo de Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude (Nadij) destaca a importância da adoção,  principalmente com jovens na faixa etária de Pedro, onde as chances de adoção são menores nos abrigos. “O processo foi tranquilo e nós trabalhamos para que ocorresse da melhor forma possível. Era um desejo do Thiago levar o Pedro para o grupo da família de forma definitiva, então ver isso se concretizar foi gratificante”, atesta. De acordo com o defensor, o fato da adoção ter partido de um projeto da Defensoria é um sinal de que o caminho certo está sendo trilhado. “Espero que, no futuro breve, surjam muitos outros Thiagos e Pedros, para contar outras histórias assim”, declara esperançoso.

Desde agosto de 2015, após esforços da Defensoria Pública para a efetivação de apadrinhamento de crianças e adolescentes acolhidos em abrigos de Fortaleza, a Justiça cearense instituiu, por meio da Portaria nº04/2016, a regulamentação de três tipos de apadrinhamento: financeiro, de prestação de serviço e afetivo, como no caso de Thiago e Pedro.
A sentença favorável a Thiago saiu nesta quinta-feira, 12.

Formas de apadrinhamento:

AFETIVO – criado para incentivar a manutenção de vínculos afetivos, ampliando as oportunidades de convivência familiar e comunitária. Nesse caso, o voluntário pode visitar o apadrinhado na unidade de acolhimento, levá-lo para passear, passar fins de semana, férias escolares (por período não superior a sete dias), entre outras ações lazer.

FINANCEIRO – consiste em contribuir economicamente para atender as necessidades do acolhido, sem criar necessariamente vínculos afetivos. Ele poderá custear os estudos do apadrinhado, atividades extracurriculares, tratamentos de saúde, além de poder presentear o jovem com livros, vestimentos e outros bens.

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – é realizado por profissional liberal que poderá executar, junto às instituições de acolhimento, cursos direcionados ao público infantojuvenil, custear atividades diversas que garantam acesso à dignidade dos acolhidos, além de colaborar com serviços inerentes às atividades do voluntário.