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“Não estamos no cenário epidemiológico ideal pro retorno das atividades”, diz médico no #NaPausa

“Não estamos no cenário epidemiológico ideal pro retorno das atividades”, diz médico no #NaPausa

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Fortaleza e dezenas de outras cidades cearenses estão retomando aos poucos, em fases, as atividades econômicas e sociais restritas nos últimos meses por conta do isolamento social imposto pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Esse retorno ao “novo normal”, ainda com restrições e uso obrigatório de máscaras foi tema do #NaPausa de quarta-feira (24/6), cuja transmissão aconteceu no perfil da Associação dos Defensores do Ceará (Adpec), no Instagram.

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho Regional de Medicina (Cremec), Roberto da Justa Pires Neto avalia com cautela essa transição.

“É uma decisão difícil de ser tomada. Mas acho que não estamos no cenário epidemiológico ideal para o retorno. Apesar do declínio nas estatísticas, temos o vírus ainda circulando intensamente. E a grande maioria das pessoas ainda está suscetível a ele. Se elas começarem a circular, vão se infectar”, alertou o médico infectologista.

Estudos indicam que entre 75% e 80% da população de Fortaleza ainda não tem anticorpos contra a Covid-19. Isso representa entre 1,8 milhão e 2 milhões de pessoas, já que a capital cearense tem cerca de 2,5 milhões de habitantes. Dos 184 municípios do Ceará, apenas um, Granjeiro, na Região do Cariri, não tem casos confirmados de coronavírus.

O Estado soma 99,3 mil casos e 5,7 mil mortos em decorrência da doença, ainda sem cura e que no mundo já afetou 9,5 milhões de pessoas, deixando mais de 483 mil mortos. “Ninguém tem a resposta de quando as atividades devem retornar. O que posso dizer é que as crianças e os jovens [com o retorno das aulas, previsto para julho] podem funcionar como carreadores do vírus para dentro de casa, de modo que os idosos também podem ser afetados. O tempo nos dará mais segurança sobre isso”, acrescentou o médico.

Ele defendeu que, antes de retornarem ao ambiente escolar, os alunos sejam todos submetidos a uma testagem em massa. Assim, o poder público teria melhor controle do cenário e evitaria uma segunda onda imediata de contágio e superlotação do sistema público de saúde. No primeiro pico, observado em maio, a ocupação de leitos de UTI no Ceará chegou a próximo de 100%.

“Há muitas dúvidas sobre se voltar agora é prudente porque como pode haver isolamento numa casa pequena onde vivem dez pessoas, que é a realidade de muitas periferias? Nós esperávamos uma demanda muito grande de pedidos de leitos e isso não aconteceu talvez por resultado do lockdown”, ponderou a titular do Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa), defensora Karinne Matos.

Roberto da Justa admitiu a probabilidade de o Ceará enfrentar até duas novas ondas de Covid-19 entre o segundo semestre deste ano e o primeiro semestre de 2021. “Baseado em outras pandemias de influenza especula-se o que pode acontecer agora no intervalo de um ano e meio a dois anos. Porque ainda tem muita gente suscetível e, com a flexibilização, as pessoas começam a sair de casa com o vírus ainda circulando. E vírus respiratórios têm uma capacidade de disseminação muito grande.”

Ele destacou que apenas 10% das pessoas infectadas pelo vírus evoluem para a forma grave da doença e precisam de algum tipo de internação. E que a quantidade de pacientes indicados para UTI é ainda menor. Isso, contudo, não garante ao coronavírus caráter de baixo potencial ofensivo ao organismo humano. Pelo contrário. Esses percentuais são de uma patologia altamente virulenta. A maioria dos doentes, entretanto, é assintomática.

“Esse elevado número de internações tensiona os serviços de saúde em grande magnitude. Por isso, nós precisamos de um sistema melhor preparado possível pra dar suporte às pessoas. Foi executado um plano de contingência e é importante destacar que esse esforço todo não pode relaxar ainda. É preciso ter leitos ainda. Essa é uma crise sanitária que ainda não está resolvida. Ainda não temos um controle”, frisou Justa.

O #NaPausa é um programa de transmissões ao vivo no qual a Adpec e a Escola Superior da Defensoria Pública (ESDP) promovem educação em direitos no período de isolamento social. Mais de 23 mil pessoas já foram alcançadas com as lives sobre os mais diversos temas.