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“O aliciador vai construir a proposta de acordo com o teu sonho”, alerta coordenadora sobre tráfico de pessoas

“O aliciador vai construir a proposta de acordo com o teu sonho”, alerta coordenadora sobre tráfico de pessoas

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Uma jovem cearense conheceu um holandês durante conversa em sala virtual de bate-papo. A mulher saiu de sua cidade e viajou pensando que iria viver um relacionamento afetivo no outro país. Mas, com o tempo, ela passou a ser submetida a uma situação de exploração sexual promovida pelo próprio companheiro. Conseguiu pedir ajuda a uma ONG que entrou em contato com o Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Ceará, hoje ligado à  Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS). 

A busca por sonhos e oportunidades precisa ser algo cauteloso, para que não se torne a porta de entrada para situações de violência. Buscando prevenir e conscientizar a população sobre os perigos que envolvem o tráfico de pessoas o dia 23 de setembro faz alusão ao Dia Internacional contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças.

“O tráfico de mulheres, crianças e de pessoas de uma forma geral acontece, na maioria das vezes, com um público que está em uma situação vulnerabilidades social e econômica”, contextualiza a defensora Kelly Nantua, que atua no Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem) da Defensoria Pública, em Fortaleza. Ela reforça a importância da Lei 13344/2016, que regula a questão. “Entre outras diretrizes, a legislação fala da prevenção ao tráfico de pessoas, principalmente, por meio da educação, por campanhas socioeducativas, conscientização, assistência social, promoção da saúde, para atingir o maior número de pessoas sobre esse crime. Elas acabam sendo vítimas, justamente, pela falta de conhecimento, sendo enganadas, iludidas”, comenta. 

“O crime pode ser cometido através de violência, grave ameaça, fraude, abuso. A exploração sexual é uma das formas mais comuns, além da extração de órgãos, trabalho escravo, servidão”. Segundo a defensora lembra a subnotificação do tráfico de pessoas ainda é grande no Brasil. Dados do Ministério da Justiça e da Segurança Pública mostram que, entre os anos 2000 e 2013, foram traficados 1.758 brasileiros, em sua maioria, mulheres. O Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas, divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em 2018, aponta que quase 25 mil vítimas foram detectadas no mundo em 2016. Segundo o órgão, quadrilhas chegam a movimentar mais de 30 bilhões de dólares, com a exploração de, aproximadamente, 2,5 milhões de pessoas. 

A coordenadora do Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Ceará, Lívia Xerez, observa que o tráfico é uma construção de atos, meios e finalidades de exploração e, muitas vezes, não é uma pessoa distante, de uma quadrilha internacional, que vai cometer o crime. “Pode ser uma pessoa de confiança ou que quer inspirar confiança: uma prima, amiga, vizinha, um conhecido que inspira uma vida promissora. Uma pessoa que quer mostrar parceria”, caracteriza.

“Esse aliciador é aquela pessoa que engana, promete, diz que que vai ser tudo maravilhoso, usa de meios ilícitos para que esse cidadão, essa pessoa chegue a esse destino final. É uma pessoa cheia de artimanhas”, alerta. É importante que a população fique atenta a propostas tentadoras, como um trabalho em que se ganha acima da média, viagens muito facilitadas, convites em que esse aliciador facilita passagem e passaporte. “São propostas muito tentadoras de uma vida mais fácil em outro estado, outra cidade, outro país”. 

Ela enumera situações, como supostas agências internacionais de modelos e treinadores de futebol. Outras circunstâncias que podem se configurar como tráfico e exploração são falsas promessas de emprego na Capital, quando, na verdade, é um processo oculto de aliciamento de pessoas que venham no interior do Estado. “Tudo perpassa uma questão de gênero. Na infância, muitas vezes, as meninas são educadas ouvindo histórias de príncipes e princesas, esse príncipe loiro, alto, branco, dos olhos azuis, que vem num cavalo branco tirar essa jovem de uma situação ruim para levá-la embora e morar em um castelo, ter uma vida perfeita. É uma questão de gênero”, comenta Lívia, contextualizando a recorrência de situações em que crianças, jovens e mulheres acreditam que um suposto relacionamento pode tirá-las de uma situação de vulnerabilidade. 

Em tempos de pandemia, as redes sociais são a porta de entrada para que este criminoso tenha acesso à vida da possível vítima. “O aliciador vai construir a proposta de acordo com o teu sonho. Então, se ele sabe que você tem um sonho, um objetivo, todo esse contexto criminoso, falso, vai ser construído com base naquilo”, alerta Lívia. Outros contextos sociais também têm a recorrência destes crimes, como boates, bares, restaurantes, barracas de praia, casas de prostituição, agências de emprego, agências de modelo, hotéis, anúncios de jornais.

Algumas dicas podem ser relevantes no combate ao tráfico de pessoas e exploração sexual de mulheres e crianças:

Cuidado ao adicionar pessoas desconhecidas às redes sociais. Não dê informações pessoais e ser for conhecê-las, dar preferência a locais públicos; 

No exterior, cuidado com o passaporte e desconfie daqueles que dizem facilitar a sua emissão e deslocamentos (passagens e traslados); 

Se for viajar para outra cidade, estado ou país, informe à família e aos amigos o local onde irá ficar, com endereço e telefone. Mandar a localização por meio de aplicativos de mensagem para sua rede de apoio também é importante;

Caso se sinta ameaçado (a), procure policiais, órgãos ou autoridades locais. A denúncia é uma das principais formas de combate. 

Curso

Está online o “Curso de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Brasil”, realizado na modalidade de ensino à distância, com carga horária de 40 horas e disponível no Portal de Educação a Distância da Polícia Federal. Clique aqui para se inscrever. O projeto foi financiado pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, Escritório de Monitoramento e Combate ao Tráfico de Pessoas (J/TIP Office), e implementado pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias (ICMPD) em parceria com a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senajus/MJSP), a Polícia Federal (PF), o Ministério Público Federal (MPF) e o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH).

Como denunciar

Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas no Ceará: (85) 3454 2199

Polícia Federal (85) 3533 4180/3533 4181

Central de atendimentos de Direitos Humanos: Disque 100

Central de atendimento à mulher: 180

Defensoria Pública 

Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem):  (85) 98650 4003, 3108 2986 e 99856 6820 

Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas: (85) 98895 5514