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#OrgulhoLGBTQ+: “Precisamos marcar os espaços, gritar as violências de nossos corpos em busca de respeito”

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“Precisamos marcar os espaços, gritar as violências de nossos corpos em busca de respeito”

Arte e resistência LGBTQ+ acompanham a trajetória do ator e diretor cearense Silvero Pereira, de 37 anos. Natural de Mombaça, a mais de 300 quilômetros de Fortaleza, logo cedo se lançou no teatro. A vivência artística o levou não só à profissionalização – ele é graduado em Artes Cênicas pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) -, mas também ao autoconhecimento. “O teatro me ajudou profundamente no meu processo de aceitação”, pontua.

Hoje, Silvero coleciona trabalhos no teatro, televisão e cinema, com presença em histórias que reforçam o posicionamento dele em favor do respeito à diversidade. Para o artista, a luta contra o preconceito é “gritar as violências de nossos corpos em busca de respeito”. São essas vozes que ecoam nos espetáculos do coletivo artístico As Travestidas, grupo de múltiplas linguagens liderado por Silvero que levanta a bandeira LGBTQ+ há mais de uma década não só no Ceará, mas em outros estado ao redor do país.

Neste 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQ+, perguntamos os motivos que Silvero Pereira tem para se orgulhar. O ator falou ainda das lutas em que se engaja e do papel de transformação da arte na representatividade e contra a discriminação.

Confira abaixo a entrevista na íntegra.

O Dia do Orgulho LGBTQ+ remete à uma data de mobilização entre lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais, além de apoiadores das causas. Na sua opinião, quais bandeiras de luta por direitos pautam este 28 de junho?

Em primeiríssimo lugar, a criminalização da LGBTQfobia. Muitos corpos foram massacrados, agredidos, assassinados. Muitas gerações perderam vidas para que hoje tenhamos essa vitória no STF (no último dia 13 de junho, o plenário do Supremo Tribunal Federal autorizou a criminalização da homofobia e transfobia com base nos crime de racismo). Um respiro no meio de tanto desrespeito. Uma batalha vencida, mas não a guerra. Nossa luta segue firme e forte até reconstruirmos uma sociedade que não mais esteja baseada nas regras/leis que discriminam. Precisamos construir uma nação verdadeiramente democrática. Além disso, existem pautas como o direito à educação, saúde, trabalho e família. Porém, estes itens também estão inseridos na demanda da LGBTfobia, pois precisamos desconstruir o processo do medo, da violência, da agressão verbal, física e social, para tentar construir um processo de reparação histórica de nossa comunidade.

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O que é o orgulho LGBTQ+ para você?

Aceitação. Ter orgulho de ser LGBTQIA+ (sigla para designar lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais, assexuais e outras orientações, identidades e expressões de gênero) significa, em nosso país, romper diariamente os ambientes de opressão e discriminação. Trata-se de um esforço diário de se impor, de quebrar as caricaturas e sentimentos de inferioridade que tenham nos sufocar. Orgulho, pra mim, é expor minha existência de corpo agredido, desrespeitado.

Quando e como você passou a sentir orgulho de ser LGBTQ+? Alguém foi referência?

O teatro me ajudou profundamente no meu processo de aceitação. Fui me descobrindo como na fábula do patinho feio e compreendendo que não havia nada de errado comigo, os outros que estavam equivocados. Minhas grandes referências foram as artistas transformistas de Fortaleza. A beleza delas em cena me causava um forte sentimento de admiração, e que eu deveria sentir o mesmo sobre meu corpo e meus desejos.

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Como se compreender dessa maneira mudou sua vida?

Mudou completamente. Como falei anteriormente, me sentia um patinho feio e, ao me perceber “cisne”, pude absorver melhor o mundo, me sentindo livre, belo e potente. Foi como se estivesse descobrindo super poderes, uma fênix renascida.

Você e outros artistas encabeçam o coletivo artístico As Travestidas, em Fortaleza. Como vocês têm acompanhado as discussões sobre a temática LGBTQ+ no Ceará?
As Travestidas é um importante movimento nas mudanças das políticas públicas LGBT+ no Ceará nos últimos 15 anos. Nossos trabalhos nos palcos, nas ruas, escolas e universidades fizeram crescer o sentimento de empoderamento e representatividade. Fomos levantando bandeiras de luta, provocando, questionando a sociedade sobre como aceitar e respeitar as diferenças.

Como é estimular esse debate através de linguagens artísticas?

A arte é uma arma potente. Ela, através da catarse e identificação, consegue de maneira muito imediata atingir os espectadores e provocar um novo pensamento, consciente ou inconsciente, promovendo mudanças no pensar e no agir.

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O que você diria aos LGBTQs? Do que se orgulhar nesta data?

Precisamos marcar os espaços, gritar as violências de nossos corpos em busca de respeito, pois fazemos parte da sociedade como qualquer pessoa. O dia 28 de junho é data de celebrar nossa existência e resistência. É importante estar nas ruas para expor nossa alegria de existir. Entretanto, muito ainda precisa ser conquistado. Não temos leis que garantem os direitos de ir e vir sem sermos violentados, não temos mercado de trabalho, não temos espaços de convivência familiar e não temos direito a entrar e sair da escola sem ser discriminado.

(As imagens utilizadas nesta reportagem foram reproduzidas das redes sociais de Silvero Pereira).