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Primeira adoção internacional pela Defensoria é concluída e menino irá para Alemanha, após 11 anos em abrigo

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Sabe quando você planta uma semente em um vaso com tanto apreço que fica contando as horas para que o primeiro ramo comece a aparecer? É assim que muitos pais e mães esperam por seus bebês. Em muitas dessas situações, o amor gerado vai além dos traços físicos, das condições genéticas ou da distância percorrida para encontrar o filho. O sonho da maternidade/paternidade pode ser realizado de formas diferentes, seja gerando um bebê no próprio ventre ou uma gestação que começa com papéis e termina no coração.

Foi o que aconteceu com um casal alemão que procurou o Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública da Infância e Juventude (Nadij) para adotar uma criança da unidade de acolhimento O Pequeno Nazareno, em Fortaleza. Após a ação, o menino de 11 anos de idade está convivendo provisoriamente com os pais e aguarda a finalização da etapa de convivência para viajar definitivamente para a Alemanha. Esta foi a primeira adoção internacional acompanhada pela Defensoria Pública do Estado do Ceará. Outro dado surpreendente é que essa é também a primeira adoção na história do lar O Pequeno Nazareno, mesmo após 26 anos de funcionamento.

O caminho que os pais percorreram foi longo, além da distância de quase oito mil quilômetros que os separavam, a papelada para dar entrada parecia desafiadora. “Eles são casados desde 2013 e já realizavam trabalhos voluntários no Brasil, principalmente no Pequeno Nazareno, porque é uma organização não-governamental que recebe ajuda financeira de outros países. Como eles sempre tiveram o desejo de adotar uma criança, procuraram as autoridades competentes na Alemanha até serem devidamente cadastrados no sistema brasileiro de adoção, em 2015. Anexaram nos autos do processo, além de toda a documentação pessoal, relatórios psicossociais devidamente traduzidos para o português. Só cinco anos depois a adoção de fato se concretizou”, explica a defensora pública Ana Cristina Teixeira Barreto, responsável pela ação.

A criança, desde os sete meses de idade vivia em abrigos, passou por três unidades de acolhimento distintas, além de um processo doloroso de destituição do poder familiar, quando os pais biológicos perdem os deveres perante a criança. O coordenador do Pequeno Nazareno, Antônio Carlos da Silva, acompanhou os encontros entre o casal e o garoto. “Como temos um programa de apadrinhamento fora do país, há um grupo de voluntários que captam doadores para serem padrinhos financeiros das nossas crianças acolhidas e alguns desses doadores fazem contato com os adolescentes, mandam cartas, ajudam financeiramente com alguma necessidade do garoto. Esse casal foi o ponto fora da curva, porque eles passaram a visitar o Brasil, criou-se um vínculo muito forte com a criança até que ela pediu para ser adotada. Em um desses encontros, eles falam muito emocionados que foram eles quem foram adotados”, revela Antônio Carlos.

A unidade de Acolhimento O Pequeno Nazareno tem hoje 22 garotos acolhidos, com idades entre 8 e 16 anos. Trata-se de uma Organização da Sociedade Civil (OSC) sem fins lucrativos, fundada em 1993, que atua no atendimento a crianças e adolescentes em situação de rua, suas famílias e comunidades, em Fortaleza, Recife e Manaus. Oferecem nutrição, atividades esportivas, culturais, recreativas, atendimento psicossocial, acesso à educação e acompanhamento familiar. “Essa é a primeira adoção que realizamos aqui em Fortaleza, mesmo depois de 26 anos de atuação. O sentimento que fica pra gente é único, porque essa criança, que viveu uma vida inteira dentro das unidades de acolhimento, passando de abrigo para abrigo, vai construir um novo futuro. É um alento para que os outros adolescentes, que estão no cadastro e fora do perfil pretendido, possam ter esperança também de um futuro melhor”, complementa Antônio.

A defensora pública Ana Cristina Teixeira destaca que toda criança ou adolescente tem o direito a ser criados e educados no seio de uma família. “Precisamos mostrar a sociedade que existem crianças acima de oito anos, quando já deixaram a primeira infância, e adolescentes que precisam ser adotados em unidades de acolhimento integradas somente por eles. Essa criança ou adolescente precisa ser inserida em uma família, onde terá direito à convivência social e comunitária e receber amor e carinho, sonegados durante toda a vida por sua família biológica”.