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Sétima edição da Oficina Pais e Filhos encerra a programação de 2019

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Na última sexta-feira (18), aconteceu a sétima edição da Oficina Pais e Filhos, encerrando a programação das atividades no ano de 2019. A prática envolve famílias assistidas pelo Núcleo de Solução Extrajudicial de Conflitos (Nusol) e tem o intuito de fortalecer e orientar pais, mães e filhos que estão vivenciando a fase de reestruturação após rompimento dos laços conjugais. Ao longo de todas as atividades desenvolvidas no ano, cerca de 200 pessoas passaram pelas oficinas.

A defensora pública e supervisora do Nusol, Rozane Magalhães, explica que a cada edição o empenho para proporcionar um momento de crescimento e aprendizado aos participantes só aumenta. “É muito prazeroso e gratificante receber e acolher essas pessoas. O momento de ruptura de laços conjugais é complexo e envolve um  misto de sentimentos para os adultos e ainda mais para as crianças. Contudo, ainda existe uma relutância das partes em participar, seja pelas dificuldades diárias, por vergonha de buscar ajuda ou até mesmo por avaliarem como algo desnecessário. Deste modo, é essencial a demonstração dos benefícios dessa experiência, em todos os atendimentos realizados pelo Nusol procuramos explicar e motivar esses casais. Organizamos tudo com muito carinho e com o desejo de proporcionar reflexões sobre essa nova relação que surge após a decisão do divórcio”, ressalta a supervisora.

Junto aos olhos marejados e mãos inquietas, o anseio em buscar estratégias para conduzir da melhor maneira a nova fase acompanham Maria da Conceição de Sousa, 39 anos.  Após 18 anos de casamento, e com um filho de nove anos para conduzir o divórcio, a cozinheira conta que quando o relacionamento estava desgastado o ambiente familiar fica muito tenso. “Decidimos juntos que o melhor seria cada um ir seguir o seu caminho. Ele veio até a Defensoria Pública e me entregou a carta convite com a data da audiência. Em seguida fomos convidados para participar da Oficina de Pais e Filhos e aqui percebo que este é um bom começo, pois é uma ajuda, uma orientação para os novos passos, afinal se isso não for conduzido com sabedoria, os desentendimentos persistirão mesmo após a separação. Então, vamos fazer de tudo para darmos o melhor para o nosso filho. Cada qual no seu canto, mas unidos”, destacou Conceição.

De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2017, a cada três casamentos existe um divórcio; o número também é expressivo nas demandas recebidas pelo Nusol. Já nos primeiros seis meses deste ano, 471 audiências extrajudiciais foram realizadas. A defensora pública Rozane Magalhães ressalta que as ações de divórcio são as mais recorrentes. “Diante da crescente demanda, iniciativas como a Oficina Pais e Filhos procuram minimizar ao máximo os danos ocasionados  pelo divórcio. Os filhos precisam ser enxergados com um olhar diferenciado durante o processo de reestruturação. É essencial que sejam amparados com amor, respeito e que a presença do pai e da mãe permaneçam constantes na vida deles”.

Crianças: Círculo de Construção de Paz

Em uma grande roda formada por muitas cores, as crianças foram acolhidas para um momento de  atividades, interação e brincadeiras. Os pés descalços, as pinturas nos rostos e o ambiente aconchegante tornaram o círculo uma dinâmica divertida que as envolveram de forma natural. Uma das salas da Defensoria foi preparada para receber as crianças, tudo pensado para elas se expressaram. Segundo a psicóloga e coordenadora do setor de Psicossocial da Defensoria Pública, Andreya Arruda, é preciso trabalhar algumas questões vivenciadas nessa nova configuração familiar, assim como estimular a reflexão sobre as possibilidades de convivência harmônica e saudável com os pais. “A metodologia dos círculos contribui muito para a adaptação ao novo contexto familiar, pois estimula a expressão por meio da fala, dos desenhos, da contação de histórias com fantoches e sobretudo momentos de escuta das partilhas de cada um. Nesta edição, buscamos ter bastante atividades interativas, além de um painel onde eles escolhiam de que forma desejavam ser recepcionados, tudo para que elas se sentissem à vontade e seguras para dividir conoscos seus pensamentos, sentimentos e anseios”, pontuou Andreya.

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“Não foi fácil”. Entre pausas, é assim que Luiz Carlos Amaro Florencio, 40 anos, porteiro, define a experiência do divórcio. Os 13 anos de casamento não resistiram às dificuldades diárias. Luiz afirma que a escolha pela separação se deu de forma amigável, por perceberem que seria o mais prudente para os dois. “Temos três filhos pequenos que precisam de nós, então é uma situação dolorosa, pois as crianças precisam compreender que os pais não estão mais juntos e acabam sofrendo com isso. Vim participar dessa oficina com o objetivo de ajudar os meus filhos, pois ainda sentem bastante, mas eu e a mãe deles estamos empenhados em demonstrar que apesar de não estarmos mais juntos como um casal, estamos juntos em nosso papel de pai e mãe”, frisou o pai.

Para os adolescentes a programação procurou esclarecer sobre as consequências do rompimento do relacionamento dos seus pais. Mônica Santini, psicóloga responsável pelas Oficinas do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Fortaleza (Cejusc) e voluntária da Oficina, ressalta que é necessário que os jovens conheçam seus direitos de filhos e se percebam como agente responsável pelo seu comportamento, aprendendo a lidar com suas emoções de forma adequada. “O adolescente precisa se sentir seguro para expressar seus sentimentos por seus pais independente do fato deles não estarem mais juntos. Infelizmente, às vezes os filhos ficam no meio da situação e recebem uma grande pressão. Por exemplo, nem o pai ou mãe devem interrogar seus filhos após as visitas, tampouco cultivar sentimento de culpa ou insegurança por acharem que podem desagradar, além de não serem mensageiros entre os pais”, esclarece a psicóloga.

Além da presença das defensoras públicas Rozane Magalhães e Maria Das Dores Andrade Falcão, participaram das oficinas os estagiários e colaboradores do Nusol; a equipe do Psicossocial da Defensoria Pública, a ex-estagiária Lorena Oliveira Galindo Almeida, apresentadora da gincana, bem como a psicóloga do Cejusc, Mônica Sant’Ana Mantini, a advogada e mediadora Judicial, Suzyanne de Kassya Ventura Pessoa de Paula, e membros da Coordenadoria e Mediação Social, Justiça Restaurativa e Cultura de Paz, vinculado ao Gabinete da Vice-Governadoria do Ceará, Erika Chaves e Lilian Gondim.