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Defensoria acompanha primeiro caso de adoção de gêmeos pelo Cadastro Nacional de Adoção em Fortaleza

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A rotina de Kristiane da Cunha, 36, e Robson Luiz Barros, 43, mudou de repente. A feira de casa, que continha mantimentos somente para os dois, agora inclui itens como fraldas, shampoos e sabonetes para bebês, talcos, mamadeiras e chupetas, assim, no plural. E foi a partir dessa mudança que a vida do casal se tornou, de fato, plural. A chegada de Bernardo e Benjamin, gêmeos de cinco meses, veio para transformar a rotina e encher de amor o lar que já sonhava em recebê-los. Este foi o primeiro caso de adoção de gêmeos pelo Cadastro Nacional de Adoção (CNA) em Fortaleza, e o processo foi intermediado pelo Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública da Infância e Juventude (Nadij).

Juntos há 5 anos, Robson e Kristiane entraram no CNA em maio de 2015, no entanto, a vontade de adotar uma criança já vinha desde o início do relacionamento. “Desde o namoro, a gente já conversava sobre adotar uma criança, afinal, não era um mundo muito distante do nosso. Eu já convivia com familiares que foram adotados, de certa forma, e o Robson também. A gente sempre conviveu com a ideia de que não são somente os pais biológicos que podem prover esse amor tão valioso e necessário”, conta Kristiane. No dia 16 de outubro deste ano, a decisão proferida pela juíza da 3a Vara da Infância, Alda Maria Holanda Leite, foi favorável e concedeu a guarda provisória aos pais de primeira viagem.

A surpresa foi maior ainda, já que eles estavam aguardando a concretização da adoção somente para o final de 2020. “Na realidade, nós não tínhamos nada, justamente porque estávamos nos organizando para o próximo ano, já que era a previsão do CNA. Mas quando recebemos a notícia, tudo mudou. Muita gente ajudou nessa hora, vieram cunhadas, amigos, gente fazendo surpresa com festa de chá de bebê, tudo”, relembra Robson.

“Conheci os gêmeos em uma visita técnica à unidade. Ambos foram entregues para adoção pelo projeto Anjos da Adoção. Pessoalmente, fiquei muito feliz em poder participar desse processo. Essas crianças foram abençoadas e terão uma nova oportunidade. Desde o início, o casal esbanjou muito amor entre eles e com as crianças. Eles foram vinculados e procuraram o Nadij para dar início a adoção. Por se tratar de bebês, o estágio de convivência teve início rapidamente com a guarda provisória que saiu no dia seguinte ao pedido”, explica a defensora pública titular da 1a Defensoria do Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública da Infância e Juventude de Fortaleza, Ana Cristina Barreto.

Bernardo e Benjamin ficaram quatro meses no acolhimento Lar Batista, em Fortaleza. A mãe biológica fez a entrega de forma espontânea, como explica a coordenadora do Lar, Adriana Meireles Brasileiro. “Quanto mais rápida a possibilidade dessas crianças serem inseridas no seio familiar, melhor para o desenvolvimento delas. Eles terão toda oportunidade de estímulo, acesso, cuidado, e é como deve ser para todas as crianças. No aspecto legal da adoção por entrega espontânea, quanto mais rápidos os processos de adoção, mais rapidamente podem ser vistos os benefícios para as crianças”.

É um novo amor, esperado, que muda a rotina e conquista nos mínimos detalhes. É a saudade quando vão dormir, é acordar cedo para adiantar o mingau, é preparar o banho, é, também, a realização de um sonho. “Às vezes, é surreal, têm noites que eu fico acordada só admirando eles. Nós criamos um cronograma para não virarmos zumbis, a gente alterna, acorda mais cedo e prepara mamadeira com calma, banho. Algumas vezes, durante a noite, fico olhando para eles e simplesmente ainda não caiu a ficha, fico admirando, e agradeço a Deus pela oportunidade de sermos pais. Sabermos que, quando eles olham pra gente, é recíproco, eles também nos escolheram”, conta emocionada Kristiane.

A vida, agora, tem planos em dobro, amor em dobro, cuidado em dobro e alegria em dobro. “Reconheço o quão bonito é esse gesto de amor e vejo que ainda há muita desinformação sobre o real sentido da adoção. Tem sido uma experiência única, todo mundo chega junto pra ajudar, amigos de igreja, familiares. Costumamos falar que a gente já estava preparado, mesmo sem saber o quão rápido seria, mas é um amor tão comum que a gente já sente, que faz parte de nós”, alegra-se Robson.

Atualmente, em Fortaleza, 86 crianças e adolescentes estão cadastradas no CNA e disponíveis e aptas a receberem uma nova família. Nos últimos anos, o Nadij vem sendo cada vez mais procurado a dar entrada em ações de adoção de crianças que ainda não estão inseridas no Cadastro, mas que já possuem um vínculo afetivo com as famílias que as acolheram, no entanto, a Defensoria Pública faz o alerta: uma criança, bebê ou adolescente encontrados em situação de abandono não está automaticamente disponível para adoção.

Estes casos são chamados de adoção intuito persona (popularmente conhecidas como adoção à brasileira), que é proibida por lei. “Esse desfecho nos chama a atenção para a importância da entrega legal. Quando a família não tem condições de criar a criança, essa entrega pode se tornar um gesto de amor, oportunizando uma família a essa criança. Entregar não é abandonar. Abandonar sim é crime. A entrega, contudo, deve ser feita ao Cadastro Nacional de Adoção, às autoridades para que a criança seja entregue e amada por quem a espera há anos. São centenas de pessoas à espera do sonho de serem mães e pais”, diz Ana Cristina.

Serviço:
Núcleo de Defesa dos Direitos da Infância e da Juventude (NADIJ) –
Rua: Auristela Maia Farias, nº 1112, Engenheiro Luciano Cavalcante
(85) 3275.7662