Primeiro jovem do sistema socioeducativo a passar no vestibular consegue mudança em regime para cursar Música
Após cinco meses cumprindo medida socioeducativa de internação, João*, 18 anos, está próximo de virar definitivamente uma página difícil da própria história. A aprovação no vestibular para o curso de Música no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) em Crateús, no Sertão dos Inhamuns, renovou as esperanças do jovem em traçar um novo caminho na vida.
Em 2021, o jovem foi sentenciado a uma medida socioeducativa em regime de internação no Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota, no bairro Padre Andrade, em Fortaleza. Mas antes, ele estava em uma unidade de acolhimento de Nova Russas, no interior do Ceará. Lá, ele frequentava a escola e estava inscrito para realizar a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Com a transferência para Fortaleza, a equipe do Aldaci Barbosa levou João até Nova Russas para que ele pudesse fazer as provas.
Com todos os esforços da equipe do centro, João realizou a prova e a aprovação veio. Ele é o primeiro jovem que cumpre medida de internação nos centros socioeducativos do Estado a ingressar no ensino superior.
Na última sexta-feira (11), após audiência solicitada pela Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE), o juiz titular da 5ª Vara da Infância e Juventude de Fortaleza, autorizou a transferência para a semiliberdade para que ele possa cumprir a nova rotina de estudante.
O jovem tem permissão para sair da unidade para trabalhar, estudar e resolver questões pessoais. A expectativa é de que até o início do próximo semestre letivo na faculdade, a liberação completa do jovem seja concedida. Na segunda (14/3), João já viajou para a cidade onde começará uma nova vida. “A audiência não estava programada para agora e foi um pedido meu para que fosse logo resolvida essa situação, já que ele tinha passado no vestibular e precisava ajustar a matrícula. A decisão foi favorável e, por isso, o jovem precisou viajar o quanto antes. É uma vitória, porque sabemos que agora ele tem uma nova perspectiva de vida e vai traçar um novo caminho. Além disso, acredito que ele foi o primeiro jovem que cumpre medida nos centros socioeducativos do Estado a iniciar um curso superior, conseguindo esse benefício da progressão. Trabalhamos tanto na ressocialização desses jovens e essa decisão não poderia ser diferente , acatando o pedido nosso”, destaca a defensora pública Luciana Amaral, titular da 1ª Defensoria do Núcleo de Atendimento aos Jovens e Adolescentes em Conflito com a Lei (Nuaja).
“Eu cresci ouvindo a minha mãe cantar na igreja e logo ela percebeu que eu tinha interesse pela música e assim fui me apaixonando cada vez mais. Essa faculdade vai ser importante pra mim porque quero fazer no futuro graduação de Psicologia e trabalhar com a musicoterapia, porque assim como a música me ajudou, quero poder ajudar outras pessoas também”, destacou João antes da viagem.
De acordo com a psicóloga do centro educacional, Vitória Rodrigues da Silva, o resultado obtido pelo jovem motiva os demais a acreditarem na transformação por meio do estudo. “Histórias como esta dão um sentido especial ao nosso trabalho e nos motivam a continuar. É gratificante ver que contribuímos de alguma forma com o amadurecimento psicossocial desses jovens e suas famílias”, definiu.
A defensora pública supervisora do Nuaja, Andréa Rebouças, fala sobre a conquista do jovem e os desafios de garantir educação a aqueles que cumprem medidas socioeducativas. “A medida socioeducativa tem por escopo não só a responsabilização do adolescente, mas sobretudo, promover meios para reconstrução de um projeto de vida, e a educação é fundamental nesse propósito, em tornar sonhos em realidade e o estudo é um grande aliado, por isso a conquista do João tem que ser celebrada e que seja inspiração para outros adolescentes”, destaca a defensora pública.

