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“Sair da hostilidade para a hospitalidade é a melhor forma de vencer a aporofobia”, afirma padre Júlio Lancelotti no #NaPausa – Casos Reais

“Sair da hostilidade para a hospitalidade é a melhor forma de vencer a aporofobia”, afirma padre Júlio Lancelotti no #NaPausa – Casos Reais

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Dando início a programação especial da Semana Nacional da Defensoria, a a série de lives #NaPausa – Casos Reais, recebeu na última segunda-feira (16/05), o pároco da cidade de São Paulo e militante dos direitos humanos, padre Júlio Lancelotti, e o defensor público titular em Sobral, Igor Barreto, para um debate sobre o tema “Aporofobia: quando falam direitos humanos”. 

Padre Julio é uma referência na luta por direitos e ficou nacionalmente conhecido pelo combate contra a aporofobia, termo ainda pouco conhecido, mas que significa a aversão, medo e desprezo aos pobres e que, na prática, pode ser observado mais facilmente nos espaços públicos com a modificação da arquitetura de praças, por exemplo, o que acaba dificultando a estadia, descanso ou passagem de pessoas em situação de rua. A luta do padre Júlio não é algo recente e ele vem sendo reconhecido pelo uso das redes sociais neste combate. 

“A minha convivência com os moradores de rua, ao contrário do que muita gente imagina, vem de muito antes do sacerdócio. Hoje estamos vivenciando um crescimento no número dos moradores de rua em todas as capitais brasileiras, e proporcionalmente, junto com esse crescimento, aumenta também a violência e a rejeição a essa população. Infelizmente, o poder público é lento em dar respostas nesses casos, e quando dão, são respostas muito institucionalizadas, o que deixa essa população completamente desassistida em direitos fundamentais, como o acesso à água potável e a uma alimentação saudável, por exemplo. Isso vai aumentando o que chamamos de aporofobia, o que desumaniza essa população, mas também desumaniza quem a comete. Hoje vivemos um grande processo de desumanização mundial”, comentou.

O defensor público, Igor Barreto, aproveitou o momento um questionamento a respeito das religiões e as manifestações de cunho social, algo que vem ganhando muita força e notoriedade nos últimos anos. Para o padre, todas as religiões são instrumentos que podem ser utilizados para estes debates, mas desde que sejam utilizadas para o bem. “A gente quer uma manifestação religiosa que sempre esteja ao lado dos mais pobres, dos mais fracos. As religiões são instrumentos para o bem, então é muito importante que a compaixão e a misericórdia tenham dimensões humanas e não religiosas. Eu digo isso porque hoje, infelizmente, temos muitos religiosos que não são compassivos e nem misericordiosos. Temos que ser cristãos para sermos mais humanos, e não ao contrário como vem acontecendo. Hoje, temos muitas igrejas que são hostis ao mais pobres e não acolhedoras como devem ser , e a melhor saída para a aporofobia é deixarmos de lado a hostilidade e dar espaço a hospitalidade”, falou padre Julio. 

Ao falar sobre as dificuldades encontradas no dia a dia na luta contra a aporofobia,  ele destacou o preconceito sofrido pelos moradores de rua, onde a população está sempre voltada em culpabilizar o lado mais desfavorecido.   

 “A aporofobia está presente em todos nós e todos os dias vivemos uma do lógica do descarte. A população que está em situação de rua está também descartada. Quando passamos a apoiar o lado descartado, automaticamente somos descartados também, ou seja: quando você está dos lados fortes, você é considerado forte, agora quando você está do lado dos pequenos, você vai gerar um incômodo nos mais fortes e passa a ser julgado por isso. Então, o maior medo que eu tenho, é o da aporofobia que está dentro de nós, onde muitas vezes não lutamos para erradicar a pobreza e sim para culpabilizar e criminalizar o pobre“, disse. “Ninguém escolhe ser pobre, ninguém escolhe passar frio, ninguém escolhe ficar exposto a qualquer tipo de desrespeito e criminalização, isso tudo é uma imposição social e econômica”, complementa

Os convidados ainda aproveitaram o momento da live para debater sobre a implementação do teletrabalho na Defensoria Pública, que está em debate no Conselho Superior da instituição. “O critério do pobre é o pobre. O defensor público e a defensora pública são servidores, eles estão a serviço dessa pessoa menos favorecida para facilitar o acesso à justiça. Então essas pessoas devem ser o critério, visto que a concepção de Defensoria é defender os pobres a partir dos pobres”, afirmou o padre.

Para assistir à live na íntegra, clique aqui.