“É importantíssimo o que está acontecendo hoje, a Defensoria assumir em uma live, esse tamanho e esse tema tão pertinente”, diz Neon Cunha sobre dia 17.05
Dando continuidade a programação especial da Semana da Defensoria, a série de lives produzida em parceria com a Escola Superior da Defensoria Pública (ESDP), #NaPausa – Casos Reais, recebeu nesta terça-feira (17/05), a publicitária, diretora de arte, mulher negra e transgênera, Neon Cunha, e a defensora pública, Lia Felismino, para um momento de conversa sobre o tema “ Formas de (re)existir no Brasil que mata LGBT”. A data marca o “Dia Internacional de Luta Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia” e faz parte da programação especial da Escola Superior para marcar a Semana Nacional da Defensoria Pública. A série #NaPausa tem apoio da Adpec.
“É muito significativo estarmos tendo esse momento de conversa neste 17 de maio, dia que marca a luta contra homofobia, transfobia, bifobia. Nós da Defensoria abrimos a fala e as portas para os movimentos sociais, para a sociedade civil, para aquelas pessoas que estão em uma luta diária na construção de uma sociedade mais justa, onde a dignidade de todos seja concretizada na sua plenitude e na sua diversidade”, destacou a defensora.
A trajetória de Neon é marcada por diferentes tipos de preconceito desde a sua infância: racismo, LGBTfobia, preconceito social, marcado por uma percepção da pobreza, e a ausência de uma sensação de pertencimento, como ela comentou durante a live. “Durante a minha trajetória passei por muitas coisas. Aos 4 anos, acompanhava minha mãe no trabalho de faxineira, ele me levava para me proteger da violência que acontecia dentro de casa. Aos 2 anos e meio de idade já me reconhecia como mulher, e juntamente com isso conheci a misoginia e ouvi que esse corpo não pode habitar uma mulher, mais tarde, na escola, as pessoas diziam que não queriam andar comigo porque eu tinha cor de sujeira, cor papel pardo, aí foi quando eu conheci o racismo. Depois, anos mais tarde, conheci uma sociedade que me dizia que não tinha espaço para que fizesse esse papel de gênero, afinal de contas, muitas vezes somos reconhecidos por um órgão genital. Aos 12 anos tive o meu primeiro contato com as mulheres trans e vale lembrar que tudo isso ocorreu em um período muito difícil, o da ditadura”.
A defensora Lia Felismino aproveitou o momento de conversa para destacar a luta de Neon quando decidiu retificar seus documentos em 2014, onde ela enfrentou uma longa batalha e entrou para a história do Brasil, sendo uma das pioneiras a ter essa retificação. Na época, pessoas trans precisavam obrigatoriamente receber laudo médico, como se fosse uma patologia. “Só agora, em 2018 e 2022, que a OMS deixou de dizer que a transsexualidade é um transtorno mental, mas sim uma questão de sexualidade. Não podemos deixar que sejamos desqualificados novamente, no sentido de dizer que não temos direito de amar e de ter prazer”, disse.
“É muito importante falarmos sobre esse assunto da retificação, que é algo que estava escondido na nossa Constituição desde 1988. Tenho muito orgulho em ter facilitado o caminho para tantas outras mulheres trans de terem a retificação de nome e que consegui graças a jurisprudência. Quero destacar também a importância que a Defensoria teve em todo esse processo e de como é bom termos esses facilitadores da justiça ao nosso lado, por isso tenho um máximo respeito aos defensores”, exclamou Neon.
Sobre os dados acerca da violência contra pessoas trans, onde o Brasil tem destaque por ser um dos países que mais matam pessoas transgêneros no mundo, e o Ceará ocupa a quarta posição e falaram de resistir e existir em um país com índices tão altos de violência contra trans.
Neon aproveitou a live para falar sobre a importância da Defensoria para os movimentos sociais. “ A Defensoria é um instrumento muito jovem, com sede de revolução e que tem um anseio de mudança efetiva no judiciário e no legislativo. A Defensoria é uma grande parceira nossa, dos movimentos, na qual tenho muito respeito. Reforço mais uma vez: a Defensoria é importantíssima para todos nós, é importantíssimo o que está acontecendo hoje aqui, a Defensoria assumir em uma live, esse tamanho e esse tema tão pertinente”, falou .
Para assistir a live na íntegra, clique aqui.

