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Trajetórias de vida são compartilhadas no primeiro encontro de pessoas trans e travestis que trabalham na Defensoria

Trajetórias de vida são compartilhadas no primeiro encontro de pessoas trans e travestis que trabalham na Defensoria

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Numa roda feita no chão da Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), os relatos correram. Falaram de vida, sonho, medos e tramas. De empatia, futuro, solidariedade e coletividade. Nada de processos, procedimentos e protocolos. Assim, o primeiro encontro de pessoas trans e travestis da Defensoria Pública (DPCE) aconteceu na última sexta-feira (29/8) como marco de um tempo de maior cuidado com essa população.

A atividade foi realizada pela Assessoria de Relacionamento Institucional (Arins) e Setor de Psicossocial como cumprimento de mais uma determinação da Instrução Normativa nº 123/2021. Editada no início deste, a regra estabelece a necessidade de promoção de ações para garantia do ingresso dessas pessoas como colaboradoras da DPCE e da permanência delas na instituição.

Atualmente, a Defensoria conta com oito homens e mulheres trans e travestis nos seus quadros funcionais. “É muito simbólico ser a primeira a estar em algum lugar porque a gente passa a acreditar que outras como eu podem vir. E vieram mesmo! Que esse momento seja o início para outros”, analisa a colaboradora do Núcleo do Idoso, Patrícia Dawson, primeira travesti contratada pela Defensoria.

Membro da Arins, a travesti Fran Costa classifica o encontro como “uma possibilidade de construção” de uma Defensoria cada vez melhor a partir do que os/as colaboradores/as apontam. “Porque aqui a gente pode falar sobre a gente. Porque a gente é gente. E é gente dentro da instituição. Então, é importante que a gente compartilhe nossas vivências entre a gente pra ver em que medida a gente se fortalece compreendendo que cada um é um universo. A Defensoria ganha com isso. Essa política foi feita pra gente e ela pode e tem que ser nossa”, declara.

Supervisora do Psicossocial, a psicóloga Andreya Arruda Amendola coordenou todas as dinâmicas do encontro, pautado pela importância de que “onde a gente está, a gente tem que florescer”. A profissional explica: “é preciso ouvir o que pessoas trans e travestis têm a dizer porque elas fazem parte da sociedade e cada vez mais vão chegar na Defensoria. Então, nós temos que pensar na construção de novos caminhos para as que virão, porque o mundo já é violento demais com elas. E a Defensoria é um lugar de acolhimento.”

Andreya Amendola detalha que ao tornarem-se colaboradoras da Defensoria, essas pessoas vão também atender assistidos e assistidas como elas em alguma medida. Vão lidar diariamente com gentes que podem ter buscado ajuda em muitas instituições e chegaram à DPCE calejadas. Daí a importância de colaboradores/as terem a saúde mental observada e cuidada.

“Trabalhar na Defensoria é acolher muitas dores. Por isso, a gente precisa estar bem para acolher outras pessoas. Se a gente só pode trabalhar as pessoas ouvindo essas pessoas, essa construção tem que acontecer envolvendo quem sofre a dor. Porque meu privilégio de ser uma mulher branca, cisgênero e heterossexual não me permite alcançar o que essas pessoas sentem. Mas me permite ser solidária, empática e ativa para que o mundo mude. É por isso que esse momento de partilha é produtivo”, avalia a psicóloga.