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Centro de Justiça Restaurativa da Defensoria realiza círculos de paz para jovens do Sistema Socioeducativo

Centro de Justiça Restaurativa da Defensoria realiza círculos de paz para jovens do Sistema Socioeducativo

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Texto e fotos: Amanda Sobreira

Nos últimos anos, o Brasil tem buscado alternativas para resolver conflitos, evitando a excessiva judicialização e litígios, que são as brigas entre as partes. Para isso, despontam iniciativas que promovem a mediação e o diálogo como ferramentas para a construção de soluções pacíficas. Na Defensoria do Ceará, essas práticas acontecem também no Centro de Justiça Restaurativa. 

Inaugurado em 2018, o CJR é responsável por mediar conflitos que envolvem jovens e adolescentes, a partir de demandas do sistema de justiça. Esse modelo, para além de responsabilizar o jovem que cometeu um ato infracional, promove a reparação do dano causado e a reconciliação entre as partes envolvidas. Ao contrário do modelo tradicional de justiça, o enfoque restaurativo coloca a vítima, o adolescente em conflito com a lei e a comunidade em um papel ativo no processo de resolução.

Nesta quarta-feira (09), aconteceu uma nova etapa do projeto. Um círculo foi promovido com as adolescentes do Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota, compartilhando suas perspectivas e construindo acordos que melhoram as relações interpessoais e de convívio diário, enquanto cumprem medidas socioeducativas. A prática é uma constante na unidade socioeducativa e faz parte do programa CJR em Conexão.

A defensora pública Érica Albuquerque, supervisora do CJR, explica que é a segunda vez que o projeto é desenvolvido neste centro socioeducativo. No ano passado, 70 pessoas entre as jovens e colaboradores foram divididas em 7 turmas e o resultado foi surpreendente. “O objetivo principal é que as partes envolvidas cheguem a um acordo sobre como reparar o dano e restaurar as relações de maneira positiva. Da primeira vez, o foco era tratar os conflitos, agora caminhamos para o segundo momento onde nosso objetivo será a manutenção do bem-estar coletivo e o autocuidado, alcançando também o corpo profissional, para afetarmos positivamente todos os envolvidos”, disse.

Diretora do Centro Socioeducativo, a psicopedagoga Laura Tavares diz que a expectativa deste segundo momento do Projeto CJR em Conexão é alcançar 99 pessoas, sendo 66 profissionais e 25 adolescentes entre meninas cis e meninas trans . São quase 100 vidas alcançadas pelas práticas circulares e restaurativas promovidas pela Defensoria Pública. Serão quatro ciclos promovidos para cada turma de adolescentes, envolvendo ainda o corpo técnico da unidade.

“Foi perceptível o salto qualitativo nas relações entre equipes e na forma de abordagem e mediação junto das nossas adolescentes na primeira etapa do projeto. Pequenas práticas que importam muito e transformam os dias como falar baixo, chamar a pessoa pelo nome, pedir por favor, pedir desculpas e o mais importante que é respeitar o outro e seu espaço de fala”, explica a diretora.

Uma das participantes, que iremos chamar de Ana, disse já sentir a diferença no seu comportamento. “Eu me sinto mais tranquila, mais leve e estou mudando meus pensamentos sobre perdão. Aprendi a ouvir e me colocar no lugar do outro, vendo o problema deles também. Queria ter sempre esses momentos, não queria que acabasse”, ressaltou.

Para a Maria, outro nome fictício, o círculo ajudou para que ela “tivesse melhor convivência com as meninas”. “As pessoas falam tão baixo aqui. É um lugar que transmite paz, tranquilidade e compreensão”, reflete.

O facilitador de práticas restaurativas, Cláudio Jardim, atua no acolhimento dos jovens e adolescentes que passam pelo local. De acordo com ele, cerca de 80% dos casos que chegam ao Centro de Justiça Restaurativa (CJR) são resolvidos sem a necessidade de retornar ao sistema socioeducativo. Na prática, junto às meninas do Centro Socioeducativo Aldaci Barbosa Mota, Cláudio se emocionou e falou das sensações que esse tipo de experiência traz para a sua vida. 

“Eu chorei algumas vezes hoje, porque é muito gratificante ouvir a fala desses jovens. A gente constrói empatia, respeito, o sigilo do círculo, porque o que é dito no círculo fica no círculo. Então, a gente aprende também. Eu já participei de práticas em outros centros e é gratificante contribuir com essas mudanças”, refletiu.