
“As autoridades não têm como sentir o que a gente vive”. Amparada pela Defensoria, mãe relata dor pelo desaparecimento do filho
TEXTO E FOTOS: DEBORAH DUARTE
Antônia Andreza Meneses Santos, mãe de um jovem de 22 anos, enfrentou uma longa e dolorosa batalha. “Você não é mãe para enterrar seu filho. Ninguém merece”, desabafa, em meio à dor e à saudade que não se apagam.
O filho dela desapareceu em Chorozinho, cidade a 40 quilômetros de Fortaleza, no dia 4 de agosto de 2022, e, desde então, a dona de casa passou a buscar incansavelmente qualquer pista que pudesse trazer o rapaz de volta. “Fiz boletim de ocorrência, colei fotos dele por toda a cidade, publiquei nas redes sociais, visitei hospitais, CRAS, procurei entre pessoas em situação de rua e fui ao IML inúmeras vezes”, lembra.
Durante 791 dias, Andreza viveu uma via-crúcis na esperança de encontrar o filho. “O processo só começou a andar mesmo depois que procurei a Defensoria Pública”, afirma, mencionando o atendimento que recebeu no Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas (NDHAC). Foi a defensora pública quem lhe deu a notícia que jamais poderia imaginar: seu filho já havia sido encontrado, mas estava morto, e seus restos mortais, sem que a família fosse informada, haviam sido enterrados em uma cova social em Fortaleza. “Meu mundo desabou ali, de novo. Fiquei transtornada”, relembra, com os olhos marejados.
Supervisora do NDHAC, a defensora pública Mariana Lobo recorda aquele dia como um dos mais difíceis de sua carreira. “Ao solicitar o inquérito policial e as informações da Pefoce e das delegacias, descobrimos que os restos mortais do jovem haviam sido localizados e que a delegacia de Chorozinho tinha sido informada. No entanto, a família nunca soube. O corpo do filho da Andreza ficou mais de um ano no IML, identificado, enquanto ela fazia visitas incansáveis à instituição, buscando respostas. Quando encontrei aquelas informações, ela estava na minha frente, esperando ouvir que o filho tinha sido localizado com vida. Foi um momento de profunda dor para todos.”
Pelo relato da mãe, o desaparecimento aconteceu em 4 de agosto de 2022, e logo depois, em outubro, um corpo foi encontrado em Chorozinho e levado à Perícia Forence para identificação. Em abril de 2023, Andreza visitou a instituição e forneceu material genético para exames. Contudo, a família só foi notificada da morte do jovem e do enterro dos restos mortais em outubro de 2023, graças à intervenção da Defensoria.
Além do luto pela perda do filho, Andreza ainda precisou lutar para garantir um enterro digno. Com o auxílio da DPCE, foi possível iniciar uma ação de exumação e inumação e pedir indenização por danos morais. Em janeiro de 2024, a justiça autorizou a exumação e finalmente a família prestou as últimas homenagens ao jovem em Pacajus. Agora, a mãe busca justiça não apenas pela perda mas pela omissão das instituições ao longo do processo.
“Perdi as contas de quantas vezes fui ao IML em busca de notícias, enquanto o corpo do meu filho estava lá, esquecido. Só agora estou conseguindo viver o luto, que era uma incerteza constante. Fico pensando em quantas mães ainda estão vivendo esse pesadelo. As autoridades não têm como sentir o que a gente vive”, desabafa Andreza, lutando para retomar a vida, marcada pela ausência.
SAIBA MAIS
A Defensoria Pública do Ceará atua em parceria com outras instituições no Comitê de Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas, buscando humanizar o tratamento às famílias. “Nosso papel é orientar e garantir que os direitos dessas famílias sejam respeitados, acompanhando-as nessa jornada dolorosa e buscando todos os encaminhamentos e ações jurídicas necessárias”, explica Mariana Lobo. Em cada passo, a Defensoria busca tornar menos árdua a caminhada de quem enfrenta a tragédia de não saber o destino de um ente querido.