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96% das mulheres que procuram o Nudem sofrem violência psicológica: quando palavras ferem e silenciam

96% das mulheres que procuram o Nudem sofrem violência psicológica: quando palavras ferem e silenciam

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Muitas expressões cotidianas disfarçam a violência psicológica. Frases como “você está imaginando coisas” ou “você está ficando maluca” não são meras opiniões masculinas, mas tentativas de desqualificar a experiência e a percepção de mulheres que enfrentam algum tipo de abuso. Essa manipulação tem nome: gaslighting.

Recentemente, um caso de uma jornalista veio à tona quando ela contou em um podcast, em janeiro de 2025, que sofreu este tipo de manipulação. Enquanto desconfiava de uma traição, que era real, o então companheiro a desacreditava, fazendo-a duvidar de si mesma e da sua própria desconfiança, mas a expunha em um grupo de e-mails com outros homens. Ela frisa no texto narrado: É nesse ponto que conto como ganhei a minha cicatriz. Cicatriz? Sim. É sobre um relacionamento abusivo que eu tive muito tempo atrás. Aliás, fica o alerta de gatilho: essa história contém ameaças, coerção, gaslighting [abuso psicológico], exposição, humilhação e isolamento, ou seja, é puro suco de violência psicológica”.

Na pesquisa anual realizada pelo Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher da Defensoria Pública do Estado do Ceará (Nudem) e divulgada em fevereiro revela um dado alarmante: 96,7% das mulheres que procuram ajuda relatam ter sido vítimas de violência psicológica. Em relação ao tempo, 37% delas demoram de 1 a 5 anos para se perceber neste ciclo. 

A defensora pública e supervisora do Nudem, Jeritza Braga, destaca a dificuldade de identificação desse tipo de abuso, já que ele não deixa marcas físicas, mas sim feridas profundas na autoestima e na saúde emocional das vítimas. A violência psicológica é uma das mais graves, pois é silenciosa e prolongada. Muitas mulheres só percebem o que estão vivendo quando já estão emocionalmente debilitadas”, explica.

O que é – O gaslighting é uma das formas mais insidiosas dessa violência. Trata-se de um abuso que distorce a realidade da vítima, fazendo com que ela duvide de si mesma e de sua percepção dos fatos. O termo tem origem no filme “Gaslight” (1944), onde um marido manipula pequenos detalhes da casa para fazer sua esposa acreditar que está perdendo a sanidade. Nesse tipo de violência, as mulheres carregam o estigma de ‘loucas, histéricas e exageradas’, mas muitas vezes simplesmente estão apenas contestando o que estão vendo e sentindo. 

Além disso, essa violência pode se manifestar em forma de controle. Em uma pesquisa acadêmica batizada de “Gaslighting como violência psicológica: compreendendo o fenômeno sob a ótica da Análise do Comportamento”, as pesquisadoras Julia Lue de Freitas Minaré Moreira e Paula Grandi de Oliveira listam que, por vezes, as normas sociais e culturais tornam as mulheres mais vulneráveis a esse tipo de abuso. Muitas vítimas internalizam ‘regras’ que as fazem acreditar que precisam manter o relacionamento a qualquer custo, mesmo diante de situações de violência. 

Em um dos depoimentos trazidos no artigo, fica evidente a tentativa de controle. “Um dia, depois que ele saiu para o trabalho, uma mulher da vizinhança perguntou se eu gostaria de ir até a casa dela tomar um vinho. Tive uma ótima noite. Quando cheguei em  casa, meu celular tinha várias ligações perdidas e muitas mensagens de texto. Eu tinha deixado o celular de lado e não pensei sobre isso. As mensagens de texto começaram perguntando por que eu não estava atendendo o telefone e passaram a me chamar de todos os tipos de nomes horríveis, me acusando de estar com outros homens e eu não conseguia acreditar no que estava lendo – isso veio do nada. Enviei a ele um texto explicando onde eu tinha estado. Ele imediatamente ligou e gritou comigo por 10 minutos, sem me deixar falar. Essas discussões faziam com que eu me sentisse péssima”.

Assim, a vítima evita estar em situações que venha a ser, de forma verbal, ameaçada, constrangida e humilhada. Com o tempo, a vítima aprende a falar menos ou se comportar de maneira específica. Tem autoestima abalada e muitas vezes se afasta de amigos e familiares e o agressor passa a ter controle total sobre ela.  

A violência psicológica não é algo que se deve ignorar. Identificar os sinais e buscar ajuda são passos fundamentais para romper com o abuso e retomar o controle da própria vida. A coordenadora do setor psicossocial da Defensoria Pública, Andreya Arruda, alerta que esse tipo de violência é frequentemente disfarçado por atitudes como ciúmes, controle excessivo e desqualificação. “Para reconhecer que está em uma relação abusiva, a mulher precisa superar barreiras internas e entender que sua dignidade e autoestima não podem ser violadas”, explica.

Por isso, ela explica que a Defensoria Pública oferece atendimentos psicológicos e jurídicos, auxiliando as mulheres na reconstrução de suas vidas. “A informação também é uma ferramenta essencial para romper o ciclo de violência. Quanto mais cedo as mulheres identificam os sinais, mais fácil é impedir que a violência psicológica evolua para agressões físicas”, enfatiza Andreya.

 

SERVIÇO

Nudem Fortaleza
Tabuleiro do Norte, s/n, Couto Fernandes (dentro da Casa da Mulher Brasileira)
(85) 3108.2986 | 9.8949.9090 | 9.8650.4003 | 9.9856.6820

Nudem Caucaia
Rua 15 de Outubro, 1310, Novo Pabussu (sede da Defensoria Pública)
(85) 3194.5068 | 5069 (ligação)

Nudem Maracanaú
Shopping Feira Center – Avenida 1, número 17, Jereissati I (sede da Defensoria Pública)
(85) 3194.5067 (só ligação) | 9.9227.4861 (ligação e WhatsApp)

Nudem Sobral
Avenida Monsenhor Aloísio Pinto, s/n, Cidade Geraldo Cristino (dentro da Casa da Mulher Cearense)

Nudem Quixadá
Rua Luiz Barbosa da Silva esquina com rua das Crianças, no bairro Planalto Renascer (dentro da Casa da Mulher Cearense)

Nudem Crato
Rua André Cartaxo, 370 – Centro (sede da Defensoria Pública)
(88) 3695.1750 / 3695.1751 (só ligação)

Nudem Juazeiro do Norte
Av. Padre Cícero, 4501 – São José (dentro da Casa da mulher Cearense)
(85) 98976.5941 (ligação e WhatsApp)