
Transforma no Cariri: a emoção tomou conta da cerimônia de entrega de 38 certidões retificadas
Texto: Amanda Sobreira
Fotos: Unifap
O auditório do Núcleo de Práticas Jurídicas (NPJ) da UniFap, em Juazeiro do Norte, ficou lotado nesta quinta-feira (03/7). Mas não foi só de gente: foi de sonhos, de lágrimas e de uma emoção coletiva difícil de conter. A quarta edição do Transforma, mutirão da Defensoria Pública do Ceará (DPCE) para retificação de nome e gênero, entregou novas certidões a pessoas trans e travestis da região do Cariri, reconhecendo o direito de existir como se é.
Ao todo, 38 pessoas do Cariri foram beneficiadas com a certidão de nascimento retificada. Sendo 27 em Juazeiro do Norte, 4 pessoas no Crato, 3 em Caririaçu, 2 em Araripe, 2 em Mauriti, 1 em Barbalha e 1 em Araripe.
Pessoas como Lucas Arthur de Freitas Soares, de 19 anos, que se emocionou durante toda a cerimônia e estava acompanhado da mãe, que nunca largou sua mão. “Eu estou muito feliz. Sempre me emociono quando lembro da conversa com a minha mãe, quando ela disse que nada mudou porque a minha essência continua a mesma. Um dia perguntei se ela sentia que eu tinha matado a filha dela, como algumas pessoas pensam e ela respondeu que não, que eu sempre fui filho dela, que só mudou o nome e a aparência’”, contou enquanto segurava a nova certidão com lágrimas nos olhos.
Ao lado dele, Ana Maya Vieira de Lima, de 23 anos, exibia o cabelo arrumado, a maquiagem impecável e a coragem de quem nunca deixou de existir. “Hoje nasce a Maya que sempre viveu dentro de mim, mas agora existe também no papel. É a chance de não ser mais constrangida em lugares públicos, de ser respeitada. Não é apenas segurar um documento; é carregar comigo a força de muitas mulheres que vieram antes de mim e não puderam ter esse direito”, disse, emocionada.
Para a defensora pública Luciane de Sousa Silva Lima, supervisora da DPCE no Crato, cada certidão entregue é mais do que um documento: “É um momento de reconhecer as pessoas trans e travestis que desejam renascer e ter seu nome e gênero respeitados, como forma de resgatar dignidade e cidadania. É a entrega de um direito, transformando lágrimas em esperança. Essa é a função da Defensoria: trabalhar por quem muitas vezes é invisível para a sociedade, ressaltou.
O defensor público Francisco Pankará, que também atua na região, reforçou a luta da comunidade LGBT em busca de cidadania e respeito: “É um momento que garante dignidade às pessoas, porque elas passam a ter o nome que escolheram e o gênero que se identificam. É o direito de ser quem se é. É um renascimento e é muito emocionante para todos nós, afirmou.
Participaram da solenidade os familiares de assistidos e assistidas atendidos pelo Transforma, representantes da Prefeitura de Juazeiro do Norte, da Casa da Diversidade, da Associação Cearense de Diversidade e Inclusão, da Frente de Mulheres Cariri, além de defensoras e defensores públicos e colaboradores e colaboradoras da DPCE na região.
O Transforma é fruto de uma demanda dos movimentos sociais, ouvida durante as audiências do Orçamento Participativo da Defensoria em 2022, e segue mudando histórias no Ceará. Quem não conseguiu participar da edição deste ano, pode procurar a Defensoria Pública em qualquer época do ano. Basta procurar a Defensoria da sua cidade com a documentação necessária (para saber qual, clique aqui). A DPCE dá entrada no pedido junto ao cartório e acompanha todas as fases até a emissão da nova certidão sem que seja necessário pagar por nenhum serviço.