
Defensoria em Movimento leva acesso à justiça e realiza 70 atendimentos em Crateús
TEXTO E FOTOS: JULIANA BOMFIM
A Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE) concluiu, nesta sexta-feira (04), a primeira edição do projeto Defensoria em Movimento na cidade de Crateús. Ao longo de dois dias, 70 pessoas procuraram a carreta de atendimento, estacionada na Praça Gentil Barreira, em busca de orientação e assistência jurídica gratuita. A ação integrou a programação oficial dos 193 anos do município.
No dia 3 de julho, a equipe da Defensoria realizou triagens e prestou orientações iniciais aos interessados. No dia seguinte, os atendimentos jurídicos foram realizados diretamente pelos defensores públicos Gelson de Azevedo Rosa e Lucas Dames Corrêa de Sá, além da defensora Camila Vieira, assessora de projetos e responsável pela coordenação da atividade.
A aposentada Maria Zélia de Sousa aproveitou a oportunidade para buscar ajuda na regularização da transferência de uma motocicleta vendida em 2023. “Meu marido soube que ia ter esse atendimento e me chamou pra ver se dava certo resolver isso. O rapaz comprou a moto, mas nunca tirou do meu nome”, explicou.
O defensor público Lucas Dames Corrêa de Sá, que atua no município desde maio, destacou a importância do projeto. “A carreta tem uma presença mais ostensiva que o atendimento regular do núcleo. Assim, potencializamos a divulgação dos serviços da Defensoria e ampliamos o acesso da população vulnerável à justiça”, avaliou.
A iniciativa também garantiu apoio à dona de casa Andreia Costa, que procurou a carreta para oficializar o fim de uma união estável de 19 anos e assegurar os direitos dos filhos. “Nós tínhamos uma casa e ele vendeu. Ficamos eu e nossos dois filhos sem ter onde morar porque ele diz que eu não tenho direito a nada. Fiquei sabendo desses atendimentos e vim atrás dos meus direitos. Tenho duas crianças, uma de nove e outra de quatro anos, sendo que uma delas é autista. Então, preciso lutar por eles também”, afirmou.
Juliana Morena buscou atendimento para regularizar a pensão alimentícia do filho de 12 anos. “No começo, o pai dele pagava certinho, mas começou a atrasar e agora paga quando quer, como se fosse um favor. Às vezes, até me humilha”, relatou. “Eu só quero justiça, que seja feito de forma correta, na data certa, para que eu não tenha que ficar implorando ou mandando mensagens”, complementou.
A iniciativa também foi o impulso necessário para que Francisca Rodrigues decidisse formalizar um divórcio antigo. “Nem lembro direito, mas faz mais de 30 anos. Muito mais”, disse. A filha, ao lado, esclareceu: 38 anos. E ainda brincou com a mãe: “Agora, que vai ficar solteira, é capaz de querer casar de novo”. Francisca, no entanto, respondeu com bom humor e firmeza: “Fiquei pouco tempo casada e acho melhor estar sozinha mesmo”.
Já Renato Araújo procurou a Defensoria para oficializar o divórcio e iniciar uma nova etapa da vida. Ele viveu por 25 anos no Rio de Janeiro, onde se casou em 2011 no cartório de Pilares, com uma mulher que conheceu no Complexo do Alemão. O relacionamento durou uma década e terminou de forma tranquila. Após a separação, Renato retornou ao Ceará, estabelecendo-se na casa da mãe, no bairro dos Venâncios. Foi ali que conheceu Paulo, com quem vive há três anos. “No dia 12 de junho, Dia dos Namorados, conheci um rapaz chamado Paulo e estamos juntos desde então. Como ainda estou casado no papel, decidi regularizar a situação, me divorciar oficialmente e registrar minha união estável com o Paulo. Estou muito feliz com essa nova fase da minha vida”, declarou.
Em situação semelhante, Gonçala Félix segue, legalmente, casada com o primeiro marido, embora estejam separados desde 1998. “Passei menos de cinco anos com ele e estamos separados há quase 27 anos”, contextualizou. O atual companheiro, com quem vive há mais de 16 anos, foi quem a alertou sobre os atendimentos. “Quero me divorciar, mas não tenho nenhum contato, não sei nada sobre a vida dele, não sei nem onde mora”, explicou. Nesses casos, quando não há informações sobre o paradeiro da outra parte, o processo é realizado por meio de citação por edital – e o procedimento já foi iniciado.