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Você sabe o que é deep fake? Defensoria Pública alerta sobre golpes com uso de inteligência artificial

Você sabe o que é deep fake? Defensoria Pública alerta sobre golpes com uso de inteligência artificial

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Texto: Amanda Sobreira

Mais do que golpes virtuais, o uso da imagem de pessoas reais geradas por Inteligência Artificial inauguram um novo tipo de vulnerabilidade social: o sequestro da imagem e da voz como instrumentos de manipulação. O termo chega em inglês, deep fakes, e se configura no uso de áudio, vídeo e fotografia de uma pessoa de forma falsa com o objetivo de gerar conteúdo enganoso ou que não existe.

A Defensoria Pública do Estado do Ceará alerta sobre as possibilidades de novos golpes aplicados com o uso de inteligência artificial, aqueles que simulam com realismo os gestos, a voz e até as emoções das pessoas. Lembra do golpe antigo onde a pessoa ‘fingia’ um sequestro de um parente? Imagina receber agora pelo whatsapp este vídeo. É sobre isso. 

A manipulação digital tem sido cada vez mais utilizada por criminosos para incitar a violência, controlar a opinião pública e viabilizar golpes financeiros cada vez mais sofisticados, causando, além do prejuízo em dinheiro, danos psicológicos incalculáveis às vítimas. Nomes de pessoas públicas como a modelo Gisele Bündchen e as apresentadoras Angélica e Sabrina Sato estão entre as famosas que, recentemente, tiveram suas imagens utilizadas por criminosos, promovendo a venda de produtos falsos. Conteúdos fraudulentos – que enganam as vítimas com “promoções imperdíveis” e “última chance” – são amplamente divulgados nas redes sociais e alcançam cifras milionárias, por meio de links criados especialmente para as fraudes. 

“Quando uma figura pública é “recriada” digitalmente, seja num pronunciamento falso ou numa situação comprometedora, o dano não está só na mentira em si, mas na dúvida que ela instala. Mesmo depois de desmentida, a dúvida continua corroendo a confiança nas fontes oficiais, na imprensa e até na própria noção de verdade. É um ataque silencioso, que não precisa convencer, basta confundir”, explica Janiel Kempers, jornalista e especialista em comunicação digital.

Janiel destaca ainda que “os deep fakes colocam em xeque algo que sempre foi o alicerce das instituições: a confiança pública naquilo que se vê e ouve”, aponta. “Antes, bastava um vídeo para validar um fato. Hoje, essa relação se inverteu: o registro audiovisual deixou de ser prova e passou a ser suspeito.” 

 

Risco democrátrico

Para Janiel, o maior impacto dos deep fakes não está apenas nos golpes, mas na ameaça ao debate público. “O maior risco é o colapso da confiança coletiva. Ninguém acredita em mais nada. Esse cinismo, o ‘tanto faz, todos mentem’, é o veneno mais potente contra qualquer democracia”, afirma. Ele alerta para o perigo em períodos eleitorais: “Imagine vídeos falsos de candidatos circulando em massa e cada um acreditando apenas no que reforça suas crenças. O diálogo se esvazia.”

O especialista também chama atenção para a responsabilidade das plataformas digitais. “Sem regulação, o incentivo econômico prevalece. Quanto mais sensacionalista for o conteúdo, mesmo que falso, mais engajamento gera e mais dinheiro. É um sistema que recompensa a desinformação e pune a prudência.” Para ele, o Brasil vive “entre o medo de censura e a paralisia diante do caos digital”, e o desafio é urgente.

Consequências

A defensora pública Lívia Soares, que atua na 1º Vara Cível de Aracati, destaca que o impacto emocional em quem cai nos golpes, pode ser intenso e gerar até algum adoecimento. “Muitas vezes a vítima perde o dinheiro do salário inteiro, o dinheiro que estava guardado na poupança, ou até ficar endividada fazendo empréstimo, comprometendo a subsistência básica, o aluguel, a medicação do mês. E, em consequência, vem o dano moral e psicológico, porque as vítimas relatam uma profunda violação, sentimento de impotência e vergonha por terem caído no golpe. Lidamos muito com idosos, que são frequentemente alvos desses ataques”, explica a defensora pública.

Como forma de prevenção, a Defensoria orienta que a população não repasse nenhum dado pessoal ou bancário pelo Whatsapp ou outros aplicativos de mensagens e evite a divulgação de muitas fotos ou vídeos nas redes sociais, pois isso facilita a manipulação dos criminosos. Medidas preventivas simples, mas eficazes. 

“Jamais forneça senhas, dados bancários ou código de verificação do WhatsApp, Instagram ou qualquer rede social por telefone ou mensagem. Habilite a verificação em duas etapas, especialmente no WhatsApp, e desconfie de pedidos de dinheiro de familiares ou amigos. Sempre procure confirmar a informação antes de tomar qualquer decisão”, recomenda Lívia Soares.

A orientação é que as pessoas observem bem os detalhes dos vídeos como vozes um pouco robotizadas, expressões faciais que não combinam com a fala ou frases que a pessoa nunca diria. E, caso uma pessoa caia no golpe e realize a transferência bancária, é preciso agir com rapidez para registar o Boletim de Ocorrência (BO). É por meio do BO que a Polícia Civil investiga e prende quadrilhas especializadas em enganar consumidores. Em seguida, entre em contato com seu banco para tentar rever a situação. “Se o golpe ocorreu via Pix, é possível solicitar o mecanismo especial de devolução. No caso de cartão, é importante pedir o bloqueio e tentar o estorno. Também é fundamental guardar todas as provas, como prints e comprovantes, e procurar orientação jurídica”, acrescenta a defensora.

Golpes usando falsos defensores – No primeiro semestre, a Defensoria Pública do Ceará alertou a população sobre a atuação de golpistas que se passam por integrantes da instituição (usando, por vezes, fotos, vídeos e nomes de defensores públicos ou colaboradores da instituição) para lesar os assistidos, em contato por telefone, WhatsApp ou e-mail, solicitando pagamentos via pix ou fingindo taxas, sob a falsa promessa de liberação de valores, indenizações ou até sentenças. 

A Defensoria reforça que todos os atendimentos da instituição são totalmente gratuitos, incluindo as etapas do acompanhamento processual das pessoas assistidas sem nenhuma cobrança de pagamentos por orientações, acompanhamento jurídico ou atuação em processos.

 

Guia rápido para reconhecer vídeos manipulados com IA

5 sinais para desconfiar 

  1. Voz artificial ou ritmo truncado – Mesmo quando a reprodução parece real, há pequenas quebras de fluência. O tom pode soar metálico, levemente robotizado ou com pausas fora do padrão.
  2. Olhos e expressões que não acompanham a fala – Um dos erros mais frequentes é a sincronia imperfeita entre olhos, boca e sobrancelhas. O olhar tende a ficar fixo demais ou piscar em intervalos idênticos. 
  3. Movimentos faciais e luz incompatíveis – Observe sombras e reflexos: se a luz muda no fundo, mas o rosto continua idêntico, é um sinal de manipulação. As bordas do cabelo e o contorno do rosto também costumam “borrar” quando há sobreposição digital.
  4. Frases improváveis ou fora do contexto – Pergunte: essa pessoa realmente falaria isso? Golpistas costumam usar gatilhos emocionais: urgência, prêmios, doações ou pedidos de ajuda financeira.
  5. Links e perfis que não levam a fontes oficiais – Muitos deep fakes são distribuídos junto de links suspeitos, domínios falsos ou contas recém-criadas. Sempre confirme antes de clicar.

Serviço:

NÚCLEO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – NUDECON 

Endereço: Rua Júlio Lima, 770, Cidade dos Funcionários 

Email: nudecon@defensoria.ce.def.br

Telefone(s): (85) 3194-5094 (WhatsApp)