“A adoção não deve ser vista como um ato de caridade, e sim como um ato de amor e responsabilidade”, diz defensor no #NaPausa- Casos Reais
O mês de maio foi marcado pela comemoração do dia nacional da adoção. Esta data tem como objetivo promover debates sobre um dos princípios mais importantes do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA): o direito da convivência familiar e comunitária com dignidade.
Neste ano, a Defensoria Pública do Estado do Ceará ( DPCE) aproveitou a data e fez uma reflexão sobre o tema, a partir da perspectiva da responsabilidade durante o processo de adoção. Para falar sobre este contexto de uma forma mais ampla, na última terça-feira (7/6), a série de lives #NaPausa – Casos Reais, recebeu a vice-presidente do Grupo de Apoio à adoção – Acalanto, Daniele Gondim, e o defensor público titular da 3° Defensoria da Infância e Juventude, Adriano Leitinho, para um debate sobre o tema “ A desistência da adoção e suas consequências”.
O tema adoção e devolução ainda é muito pouco discutido, mas merece uma atenção maior, pois o ato da devolução após a adoção é algo que pode gerar consequências por toda a vida da criança e adolescente. “Esse é um tema bastante importante, porque é sempre bom frisar que a adoção, apesar de ser um ato jurídico, é também um ato de muita responsabilidade, afinal, estamos tratando da vida de uma criança. Criança essa que já vem passando pelo processo de abandono de sua família biológica e que vai chegar na nova família, certamente, trazendo alguns traumas. Isso pode exigir por partes dos adotantes, uma melhor compreensão, para que assim essa nova relação se torne frutífera” comentou.
O defensor ainda completou frisando que é muito importante respeitar todas as etapas do processo de adoção, por mais demoradas que elas sejam. “É preciso mostrar que não adianta a gente tentar adiantar um processo de adoção, atropelando alguma das fases. Todas as etapas têm um sentido e evitam uma futura devolução pelo motivo de que aquela família não estava preparada para receber o adotado ou a criança/adolescente não estava preparado para ingressar naquela família”, completou.
Para Daniele Gondim, o amor deve estar em prioridade. “Eu costumo dizer que a adoção não pode nem passar perto da palavra caridade, pois não estamos preparados para fazer caridade para sempre. Quando estamos em casa, enfrentando todas as dificuldades do dia a dia de um filho ou de um parente, a gente coloca ali todo o nosso amor e a nossa responsabilidade de pai e de mãe. Se você está adotando somente para fazer o bem e não tem o amor e a responsabilidade envolvidos, certamente algo dará errado no futuro,” disse.
O ano de 2021 teve recorde de adoções no Brasil, com aumento de cerca de 10% comparado com 2020. Em contrapartida, o número de adoções que passaram pelo processo de devolução também apresentou um crescimento. O defensor Adriano Leitinho relembrou de um caso que acompanhou. “ Em 2020 tivemos um caso de uma senhora que adotou uma criança e com um mês ela a devolveu, alegando que a criança dava muito trabalho, sendo que essa senhora passou por todos os processos. Ela se disse preparada para fazer a adoção. Esse foi um processo muito traumático para a criança, o que acarretou muitos traumas e está dificultando o processo de adoção dela hoje em dia. É preciso muita responsabilidade quando se decide entrar na fila de adoção,” relembrou.
Para Daniele, esse alto índice de devoluções pode estar ligado ao despreparo das equipes que mediam a adoção, bem como a falta de um preparo para os pais e da criança que está passando pelo processo. “Precisamos de um bom laudo psicológico, de equipe muito bem preparada, precisa de boa visita da assistente social, precisamos acompanhar o pós-adoção dessa família. Afinal o pós é o passo mais importante a ser acompanhado. Quando não temos esse conjunto de coisas muito bem alinhadas, as chances de devolução aumentam. É muito importante também lembrar que a criança deve ser preparada para esse processo,” falou.
Ela ainda compartilhou a experiência vivida durante o processo de adoção da sua filha e relembrou algumas dificuldades. “Quando eu adotei a minha filha, não passei por nem um tipo de preparo, não tive muito acompanhamento, o que é fundamental durante esse processo. Certamente muita gente passou por essa situação de desamparo. Por conta dessa minha experiência, eu e mais algumas amigas fundamos a Acalanto. Lá conseguimos aparar todas as pessoas que necessitam de informação e de amparo no assunto adoção”, compartilhou.
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