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Defensoria alerta sobre golpes de empréstimos não solicitados

Defensoria alerta sobre golpes de empréstimos não solicitados

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Vítimas de fraudes financeiras têm procurado cada vez mais a Defensoria Pública Geral do Ceará (DPCE) para tentar resolver a situação. Os casos estão ocorrendo em relação a clientes de bancos ou financeiras que têm empréstimos consignados não autorizados, feitos em seu nome, e só percebem a transação quando a renda do mês passa a ser afetada pelo desconto das parcelas. 

Supervisora do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon) da Defensoria Pública, Amélia Rocha especifica quais são as situações mais recorrentes. “Nós temos recebido tanto aquela situação onde o consumidor é surpreendido com um débito no contracheque dele por um produto que ele não solicitou e, quando vai ver, supostamente teria recebido o dinheiro, mas esse dinheiro não entrou na sua conta. Uma outra situação é quando o dinheiro entra na conta dele e sai para um pix de alguém que ele não conhece”, exemplifica.  

A defensora também já se deparou com um caso de golpe por telefone. “Uma pessoa que está devendo um financiamento bancário recebe um telefonema, supostamente de um advogado da financeira, informando o número de um processo de busca e apreensão, com todos os dados daquela pessoa. Então, a vítima se desespera e busca quitar o pagamento. Só que eram terceiros fraudados, inclusive utilizando o número de um escritório que normalmente atua nessas áreas”, indica.

Foi o que aconteceu com o assistido José Augusto, de 60 anos de idade. O homem tinha um veículo com financiamento em banco e, devido a algumas parcelas estarem em atraso, começou a receber cobranças de um escritório de advocacia. No começo de abril deste ano, porém, outro escritório, que também presta serviços para o banco financiador do veículo, começou a enviar mais cobranças. O segundo escritório ofereceu uma proposta para quitação total do débito do veículo com desconto de 60% sobre o saldo devedor. 

Pouco tempo depois, Augusto descobriu que havia sofrido um golpe. “Emitiram um boleto bancário para pagamento no valor de R$ 7.338, o qual realizei o devido pagamento numa agência do Banco do Brasil. Dois dias após fazer o pagamento, recebi uma ligação de cobrança do primeiro escritório que entrou em contato comigo. Eles estavam me cobrando o débito em aberto.  Ao informar e passar os dados do pagamento do referido boleto, fui informado que tinha caído no golpe do boleto falso. Me avisaram que eu precisaria buscar todos os meus direitos na justiça e que o débito com o banco continuaria em aberto”, recorda.

Idosos são as principais vítimas desses golpes e práticas abusivas por comporem um grupo juridicamente compreendido como hipervulnerável. “Na grande maioria das vezes, o idoso não lida bem com a realidade digital. Então, ele vai se tornando mais vulnerável a essa situação”, detalha Amélia Rocha.

A supervisora das Defensorias Cíveis, Luciana Cordeiro, pontua como as pessoas que sofreram o golpe podem demorar para compreender o sucedido. “Muitas vezes, o consumidor só se dá conta depois de um certo tempo ou quando algum filho ou neto vai tirar o extrato e percebe que tem um desconto maior. É aí é que eles vão investigar. Alguns desses empréstimos são feitos pelo autoatendimento, outros são feitos realmente com assinatura e aí a gente pede a perícia grafotécnica para provar se a assinatura é ou não da vítima”, detalha a defensora.

Luciana complementa a respeito do perfil dos mais afetados pelo problema. “São aposentados, idosos e com pouca instrução. E, geralmente, esses idosos já possuem empréstimos em outras instituições bancárias. Então, os estelionatários fazem novos empréstimos. Alguns empréstimos são originários. Outros empréstimos podem ser refinanciamentos do que já existem. Nossos assistidos, sobretudo os idosos, não reconhecem e dizem que não fizeram. Por vezes, essa repactuação tem  uma condição muito pior do que o contrato originário.”

Por ter poder de requisição, a Defensoria tem a possibilidade de requisitar as informações às instituições bancárias sobre a forma que foi feito esse contrato. Ao passar o prazo de 30 dias sem receber essa resposta, é ajuizada a ação judicial pedindo judicialmente a suspensão da cobrança. 

“O impacto na vida deles é devastador porque eles já têm uma renda comprometida. Alguns, inclusive, já têm empréstimo junto às instituições bancárias. E aí é mais um valor que é descontado e isso afeta todo o orçamento familiar. Além disso, a fraude tem que estar muito evidente pro juiz conceder liminarmente, senão ele só vai analisar no final do processo se vai suspender ou não aqueles descontos”, conclui a defensora Luciana Cordeiro.

José Augusto buscou a DPCE para conseguir assistência jurídica. Recebeu o atendimento devido, mas o episódio deixou consequências. “Após receber a notícia de que tinha caído em um golpe, fiquei deverasmente revoltado, triste e deprimido, pois lutamos muito para sobreviver neste cenário de incertezas atuais e buscamos trabalhar honestamente para cumprir nosso papel de cidadão. Ao sermos enganados por esses criminosos, é muito revoltante”, complementa o assistido.