Mulheres do Parque Santana participam de roda de conversa sobre violência doméstica
Dando continuidade à programação alusiva ao mês das mulheres, o Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem) da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE) promoveu nessa quarta-feira (16/3) uma roda de conversa com o Grupo Orquídeas, localizado na comunidade do loteamento Parque Santana, no Mondubim, em Fortaleza.
Esse foi o segundo encontro do Nudem, que promoverá outros dois em parceria com a Assessoria de Relacionamento Institucional (Arins) da DPCE no objetivo de promover direitos de mulheres em situação de violência doméstica e familiar.
Para a defensora pública Anna Kelly Nantua, encontros do tipo são importantes para as mulheres entenderem melhor os contextos de violência doméstica. “Promover essa integração é muito importante, até mesmo para que elas possam identificar pessoas próximas que estejam passando por essa situação e ajudar ou até mesmo encorajar aquelas que já são vítimas da violência doméstica e têm medo de procurar ajuda’’, comentou.
A comunidade do Parque Santana possui histórico de casos relacionados a mulheres vítimas de violência. Foi daí que surgiu a ideia de criar o Orquídeas, explica a idealizadora do projeto, a mobilizadora social Silvânia Maria. “O grupo surgiu em um período muito crítico aqui na comunidade, onde tínhamos muitos casos de violência contra a mulher, e através do nosso trabalho de conscientização conseguimos fazer a redução desses números. Mas, nos últimos meses, infelizmente, tivemos alguns casos notificados e estamos tentando ajudar.”
Supervisora do Nudem, a defensora pública Jeritza Lopes informou às mulheres quais tipos de violência estão tipificados em lei e frisou que nem sempre é preciso haver agressão física para o crime acontecer. “Identificar a condição de violência nem sempre é um passo fácil. É algo, muitas vezes, que vai além do emocional. Mas sempre deixamos claro que o empurrão não é normal, os xingamentos, a perseguição, o controle nas atividades do dia a dia, a obrigação sexual e tantos outros atos que deixem a mulher oprimida’’, destacou.
Anna Kelly pontuou sobre a necessidade das mulheres procurarem ajuda e não se calarem diante das violências. “É de extrema importância que toda mulher se perceba vítima de violência para que, dessa forma ,ela possa buscar ajuda e romper esse ciclo. O rompimento da violência vai beneficiar não só a mulher, mas também para os filhos, que também sofrem com esse cenário violento no lar’’, afirmou. Além disso, a defensora explicou como funciona o processo de denúncia. “A mulher vítima de violência pode procurar a Defensoria por meio do Nudem, que funciona dentro da Casa da Mulher Brasileira. Lá, ela terá todo o acompanhamento necessário, tanto jurídico quanto psicossocial”, pontua.
A moradora da comunidade, professora de dança e educação física, Carla Martins Matos, de 54 anos, falou sobre a importância do momento de conversa para conscientizar as mulheres que elas têm direitos, principalmente quando o assunto é violência e como elas devem proceder para buscar ajuda. “Infelizmente, presenciei uma violência dentro da minha aula, junto com outras mulheres. Um marido chegou para tirar uma das minhas alunas da aula, justificando que o fato dela estar ali cuidando da saúde, do corpo, estava tornando ela uma mulher diferente e que isso estava incomodando muito ele. Mais na frente ele a proibiu de participar das aulas e até de ter contato aqui comigo, enquanto professora. É muito triste vivenciar esse tipo de situação em pleno 2022.”
Psicóloga do Nudem, Úrsula Malveira Goes dividiu um pouco do dia a dia do núcleo. “É normal todo casal discutir por situações pontuais do dia a dia; as diferenças existem. Agora, quando essas brigas deixam a mulher com medo, acuada e o marido passa a interferir diretamente em coisas simples do dia a dia, como as relações de amizade, o controle nos horários que sai de casa e a até a roupa que veste, essas são características de uma relação abusiva’’, pontuou.
Após a conversa, as mulheres receberam orientações individualizadas das defensoras públicas e participaram de algumas ações promovidas pelo SESC. O próximo encontro do Ciclo de Conversa do Nudem está previsto para a próxima quarta-feira , dia 23 de março, no bairro Granja Portugal.

