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“Tá vendo esse nome aqui? É o meu nome!”

“Tá vendo esse nome aqui? É o meu nome!”

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Os nomes das pessoas surgem como algo que é dado pelos outros, na infância. Com o passar dos anos e com a construção de cada um (a), esses mesmos nomes podem ser transformados a partir do entendimento que cada pessoa faz de si, a partir de quem se considera ser, naquilo que se representa. Isso é um direito e foi oportunizado para 25 pessoas no Cariri, neste dia 30 de junho, com a realização do Transforma – o I Mutirão de Retificação de Nome e Gênero de Pessoas Trans da Defensoria Pública, em Juazeiro.

Pietra Valentina de Brito Souza, 18 anos, entende que a oportunidade ressignificou toda sua tão jovem vida. “É o meu renascimento. Sou oficialmente Pietra Valentina de Brito Souza, do sexo feminino. Sou grata por tanto e não consigo explicar, ao contrário do que eu achava que fosse conseguir. É uma emoção, é muito intenso”, comemorou com os olhos marejados.

“Desde criança eu percebi ser diferente das outras da minha idade pelo fato de gostar e estar atraída por tudo que era popularmente falado ser de menina. Eu não entendia porque eu era assim”, relembra Pietra. Dificuldade que trouxe sofrimento, início de depressão, até viu um vídeo na internet de uma mulher falando sobre o que era ser uma mulher trans. “Eu desconhecia a palavra trans e mesmo sem saber, entendi que eu sempre cresci, pensei e agi como uma mulher. Quando assisti esse vídeo, era como se ela estivesse me descrevendo. Hoje eu entendo que cada pessoa é única. Eu sou uma mulher trans e nada vai mudar isso”.

Pietra agora inicia um novo capítulo em sua vida. Ao lado de outras 24 pessoas, transbordou emoção e determinou-se a um propósito: ajudar a quem passa pelos mesmos percalços e preconceitos que ela enfrentou. Criou o projeto “Parte de Mim”, que oferece encontros para a evolução pessoal, aceitação e transformação, auto reconhecimento e valorização. “No meu passado, ninguém conseguiu me ajudar e eu me sentia sozinha, mas hoje entendo que o principal não era a outra pessoa que ia me dar, mas sim eu mesma”, destaca.

O projeto é voluntário e acontece na escola onde Pietra estudou. “Realizo formações para ajudar as pessoas nesse processo de conhecimento interior. Os depoimentos dos alunos são emocionantes e os problemas apresentados não são só com relação à identidade de gênero. Temos várias questões que são expostas. Eu sou muito grata por poder ajudar, porque me vejo em muitos desses jovens, que muitas vezes estão sem saber o que fazer”, declara Pietra.

Sobre o futuro, Pietra é voa alto, quer deixar a cidade onde reside, em Barbalha, no Cariri do Ceará, para ganhar o mundo: “agora, não importa onde eu esteja, vou ser uma mulher feliz!”, profecia. Assim seja!

Questionamentos internos acompanharam toda a infância e adolescência de Adam Vinicius Duarte Costa Lopes, de 19 anos. As dúvidas surgiram a partir da falta de identificação com o gênero feminino. Durante a solenidade de entrega das certidões de nascimento, a alegria dele transbordou e contagiou. “Queria dizer que as pessoas cis aliadas que nos aplaudiram e fizeram o possível por nós, puderam ver a nossa felicidade aqui, mas jamais vão poder sentir de fato, porque só quem é trans sabe a importância de ter o nome, de ter o nosso nome. A gente olhar para o nosso documento e dizer: tá vendo esse nome aqui? É o meu nome!”“Tá vendo esse nome aqui? É o meu nome!”

“Eu tive o prazer de renascer aos 19 anos e assim como as demais pessoas aqui que também receberam seus documentos, renasceram. Aquelas pessoas que não receberam a certidão, por n motivos, também vão poder renascer, porque como a defensora falou aqui: basta ir lá na Defensoria”.

Em março de 2018, o jovem teve uma boa surpresa ao saber que o Supremo Tribunal Federal (STF) tinha autorizado a troca de nome e gênero em documentos de transgêneros a partir da autodeclaração. A orientação é realizar todo o procedimento nos cartórios, de forma administrativa. Mas Adam desanimou pelas custas.

“É um sonho que eu estou realizando. É o meu nome. É um nascimento. Quando entraram em contato comigo eu fiquei sem acreditar. Vou mudar meu aniversário também. Vai ser dia 30 de junho, porque é o meu nascimento. Eu queria dizer que é só mais uma conquista entre todas as outras conquistas que a gente vai ter. Vamos lutar todos os dias, porque a gente é resistência”.