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“Uma Defensoria que cuida da gente é aquela que enfrenta a desigualdade como estrutura e não como acaso”, diz Sueli Carneiro

“Uma Defensoria que cuida da gente é aquela que enfrenta a desigualdade como estrutura e não como acaso”, diz Sueli Carneiro

Publicado em
Texto: Bruno de Castro
Fotos: ZeRosa Filho

Convidada de honra do lançamento da campanha “Entre-laços: Defensoria que cuida da gente”, a filósofa Sueli Carneiro apontou nesta quarta-feira (10/12) qual deve ser a principal característica desta força-tarefa que vai orientar a atuação da Defensoria do Ceará em 2026. Ela disse: “uma Defensoria que cuida da gente é aquela que enfrenta a desigualdade como estrutura e não como acaso”. O evento marcou a passagem do Dia dos Direitos Humanos e as comemorações pelos 15 anos da Ouvidoria Geral da DPCE.

A campanha foi detalhada pela defensora geral Sâmia Farias como “um processo de escuta, mas principalmente de atos concretos e realizações para ajudarmos a construir uma sociedade cada vez mais justa e igualitária”. Serão diversas frentes de atuação protagonizadas pela Defensoria no sentido de oferecer aos públicos interno e externo da instituição espaços de escuta ativa e qualificada. “Cuidado não é um gesto isolado. Não é só uma palavra suave. É prática. É ato. É método. É decisão diária. Esse movimento vai transformar vínculos em políticas públicas. Vai fortalecer relações e reposicionar o cuidado como fundamento da nossa identidade”, pontuou.

Um dos nomes mais importantes do movimento negro brasileiro, Sueli enalteceu o papel estratégico da Defensora Pública no exercício do cuidado a partir do combate ao racismo, ao sexismo, ao patriarcado, à exclusão territorial e à violência institucional. Para ela, essas cinco questões causam feridas profundas no Brasil, que é um país de maioria negra (55,5% da população se declara assim) e ainda enfrenta as consequências de quase quatro séculos de escravização negra e indígena.

“Neste contexto, a Defensoria Pública é uma espécie de contradispositivo. Um instrumento de vida. De ampliação de horizontes. De reparação possível no cotidiano. Deve ser compreendida como uma tecnologia de democracia. Uma ferramenta que cria acessos onde antes havia portas fechadas. Que cria voz onde antes havia silenciamentos. Quando a Defensoria atua, ela amplia o projeto de país. Ela corrige distorções, reduz danos e produz presença onde havia ausência do Estado. Ela é, e deve ser, a linha de frente da justiça social. É, ao mesmo tempo, trincheira e abraço, combate e cuidado, proteção e transformação. Porque não basta interpretar o Brasil. É preciso transformá-lo. E transformar o Brasil exige centralidade nas pessoas que mais sofrem”, afirmou Sueli.

Ela destacou o programa Defensoras Populares, que no último dia 3 ganhou o Prêmio Innovare, mais importante do mundo jurídico brasileiro. A filósofa classificou o projeto da DPCE como algo que “combina excelência técnica, inovação institucional e compromisso racial com a dignidade humana”, e disse que se trata de uma forma de valorizar tecnologias sociais construídas pelos movimentos de mulheres.

“Uma Defensoria que cuida da gente é aquela que reconhece as vulnerabilidades sociais que definem quem é humano e não é humano, e sujeito de direitos no Brasil. Reconhece que os corpos negros são alvos preferenciais da violência. Compreende que mulheres negras são confinadas nos estratos inferiores da sociedade pelo racismo conjugado com o sexismo. Prioriza populações quilombolas, ribeirinhas, periféricas, migrantes e indígenas. Cuidar é enfrentar. Cuidar é garantir direitos. Cuidar é também transformar o próprio modo de atuar, humanizando atendimentos”, frisou.

Para Sueli Carneiro, a Defensoria deve existir enquanto houver desigualdade. “Uma Defensoria que cuida porque reconhece. Porque defende. Porque transforma. Uma Defensoria que, ao cuidar, antecipa o Brasil que queremos construir. Pois o país que foi capaz de construir a mais bela fábula de democracia racial deve ser capaz também de tornar esse mito realidade”, sublinhou.

Ao ouvir a ativista, o presidente do Comitê de Defesa e Promoção da Igualdade Étnico-Racial da DPCE, subdefensor geral Leandro Bessa, reforçou que “o racismo inviabiliza qualquer projeto de democracia”. E avaliou que a Defensoria “luta contra esse projeto de civilização ao mesmo tempo em que ajuda a construir outro projeto civilizatório”.

Para assistir à conferência de Sueli Carneiro na íntegra, clique aqui.