
DPCE garante na justiça que plano de saúde arque com tratamento especializado para criança com Síndrome de Down
Crianças com Síndrome de Down precisam de acompanhamento médico desde muito cedo. As diversas consultas e exames são necessários para identificar o quanto antes todos os possíveis problemas de saúde e prescrever os tratamentos devidos. A pequena Bianca, de 7 anos, tem como consequência da sua deficiência o atraso global do desenvolvimento psicomotor, além de transtornos específicos do desenvolvimento. Por conta disso, a menina precisa fazer uma série de acompanhamentos clínicos extra desde os dois meses de vida.
No começo, a mãe de Bianca, Karen Emod, arcava com as altas despesas das terapias da filha. Médicos particulares para a criança ter acesso aos tratamentos dos quais precisava, uma vez que o plano de saúde em que as duas eram beneficiárias, não possuía os terapeutas credenciados que atuassem no método indicado pela neuropediatra da menina. Em 2017, quando a mãe não tinha mais condições de pagar as terapias particulares, ela recorreu à Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE), pois a operadora de saúde negava-se a custear o tratamento adequado para o desenvolvimento da criança.
O plano de saúde afirmava oferecer fisioterapeutas, terapeutas e fonoaudiólogos, no entanto, nenhum deles eram especializados no tratamento de crianças com Síndrome de Down. Além disso, conforme o laudo do neurologista infantil, a criança tinha que permanecer com o mesmo esquema terapêutico de forma permanente a fim de que os profissionais soubessem lidar com as peculiaridades da deficiência e estimular o seu desenvolvimento.
Quando entrou na justiça, a mãe de Bianca, na época com 2 anos, informou que ela necessitava de três tipos de tratamentos: terapia ocupacional especializada no método Bobath; sessões de fonoaudiologia, com especialidade em linguagem e sessões de fisioterapia três vezes por semana. O processo correu na 37a Vara Cível, 3ª Vara da Infância e Juventude e 2ª Câmara Direito Privado, com atuação dos defensores Tiago Filgueiras, Danilo Neves de Sousa, Dóris Raquel Julião, Luciana Ferreira Gomes, Adriano Leitinho e Francilene Gomes.
Na justiça, com ajuda da Defensoria, obteve a primeira liminar ainda que com efeitos parciais. “A decisão autorizou as terapias conforme o relatório médico, só que não determinava que as profissionais de Terapia Ocupacional (T.O.) precisavam da especialização orientada pelo médico”, afirma a mãe de Bianca. Sendo assim, a criança teve acesso somente às sessões de fisioterapia e fonoaudiologia, pois a família não conseguiu fazer com que a operadora arcasse as sessões de T.O. específicas à necessidade da menina.
A mãe não desistiu de buscar na justiça a certificação da profissional negada no início e a DPCE apelou, ou seja, ingressou com recurso para revisão da decisão. “Recebi semana passada a ligação da Defensoria nos informando que nós havíamos ganhado o processo e que a Amil tinha então que continuar pagando as terapias enquanto não tiver terapeutas na sua rede credenciada com essas especializações”, comemora Karen.
Titular da 3° Defensoria da Infância e Juventude, o defensor público Adriano Leitinho, responsável pelo recurso, explica que o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará julgou positivamente a apelação da DPCE. “Conseguimos junto ao poder judiciário efetivar o direito humano fundamental à saúde da pequena, ficando o plano obrigado, inclusive, de custear os honorários dos profissionais de saúde especialistas indicados pelo médico que acompanha a criança desde o início do seu tratamento, sem limites de sessões. O TJCE, através da decisão do recurso de apelação da Defensoria Pública, deu concretude ao princípio da proteção integral da criança e do adolescente, reconhecido pela Convenção dos Direitos da Criança da ONU, pela CF88 e pelo ECA”.
A Defensoria Pública atua de mãos dadas com o paciente desde o início, fazendo a escuta especializada das assistidas e assistidos. “A Defensoria é a esperança do paciente e seus familiares no tocante a concretização do tratamento devido, na maioria das vezes negado indevidamente pelos planos de saúde. Nessa luta, a Defensoria entra como instrumento de equilíbrio na balança, levando acesso à justiça a quem mais precisa: o paciente”, finaliza o defensor.