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Alysson Frota conclui mandato de ouvidor da Defensoria; setor supera 13 mil atendimentos em dois anos

Alysson Frota conclui mandato de ouvidor da Defensoria; setor supera 13 mil atendimentos em dois anos

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À frente da Ouvidoria Geral Externa da Defensoria Pública do Ceará (DPCE) desde 1º de setembro de 2021, Francisco Alysson da Silva Frota conclui o mandato nesta quinta-feira (31/8). Ao ter a gestão marcada por uma produtividade superior aos 13 mil atendimentos, o advogado transmite o cargo nesta sexta-feira (1º/9) para a quilombola e historiadora Joyce Ramos, eleita para o biênio 2023-2025.

“Quando eu assumi, as ondas da Covid-19 haviam passado e a Ouvidoria tinha iniciado uma tendência, que só se consolida desde o primeiro semestre de 2020, de fazer atendimentos online. E acredito que conforme a Defensoria seja mais e mais conhecida também vão chegar demandas em maior volume”, analisa Alysson Frota.

Apesar de não ter tido uma gestão atravessada por picos de contágio do novo coronavírus, algo que forçou isolamento e distanciamento social, ele acredita que a pandemia foi determinante tanto para o perfil da atuação que ele próprio imprimiu como ouvidor quanto para o ritmo dos trabalhos da Ouvidoria da DPCE.

“Como voltamos da pandemia, a gente precisava retornar o diálogo mais próximo das pessoas. Minha prioridade foi essa: estar mais na rua, dialogando com as comunidades. Em Fortaleza, eu rodei em todas as 12 regionais dialogando com lideranças comunitárias, fazendo roda de conversas, apresentando a Defensoria, divulgando a Ouvidoria, sendo a ponte dos órgãos com essas lideranças. Nós encaminhamos muita coisa, tudo na base do diálogo. E onde eu pude estar em manifestação e ato da sociedade civil, eu estive”, acrescenta.

 

 

A maioria dos atendimentos nos últimos dois anos, ele revela, foram pela intermediação de demandas com os núcleos especializados da própria Defensoria: assistidos e assistidas em busca de uma audiência com defensor(a), pedidos de número de telefone, solicitações de endereços das sedes distribuídas em Fortaleza e no Interior etc. Questões essas que ele julga terem tido uma boa resolubilidade, “porque nossa equipe é muito boa e conhece bem a Ouvidoria e a Defensoria como um todo por estar aqui há muito tempo.”

Das várias maneiras de acessar a Ouvidoria, o WhatsApp é a plataforma que hoje concentra mais atendimentos. Por ela, chegam 60% dos casos. “Solicitei e na primeira oportunidade a doutora Elizabeth (Chagas, defensora geral) tratou de tudo para melhorar ainda mais os atendimentos. Então, eu saio extremamente contemplado por ter feito tudo o que era possível fazer. A companheira Joyce vai chegar num ambiente mais organizado internamente. E como eu tive uma atuação de rodar muito, pode ser que as pessoas cobrem isso dela”, acrescenta Alysson.

Ao enaltecer a intensa participação da sociedade civil organizada no processo eleitoral deste ano, que concentrou 91 entidades e culminou na eleição de Joyce para sucedê-lo, o ouvidor lista três temáticas com as quais lidou no último biênio: autismo, epilepsia e empreendedorismo feminino periférico. Todas elas ligadas diretamente com o perfil médio do público da Defensoria: mulheres negras e chefes de família.

Essas pessoas podem ter visto nele um semelhante, já que Alysson também é de origem periférica – ele nasceu e foi criado na Paupina, comunidade supervulnerável de Fortaleza -, e também é o negro a dar prosseguimento à linhagem da DPCE de só ter pessoas negras eleitas para a Ouvidoria. Sobre isso, reflete: “os espaços de poder não são montados pra gente, pretos. Por isso, esses dois anos aqui foram uma faculdade. De vida, de experiência. Eu saio com uma maturidade de vida e profissional enorme, acreditando que dei minha contribuição.”

Filho de uma pedagoga e de um cobrador de ônibus, Alysson testemunhou muitos amigos serem tombados pelo tráfico ou pela Polícia. Viu muitos jovens não terem a oportunidade do estudo que ele teve através do sacrifício da mãe. Por isso, sabe o quão valioso é o estudo. E o quão urgente é a ocupação de espaços de poder por cada vez mais pessoas negras e compromissadas com a promoção da equidade racial.

“Eu nunca imaginei estar nem no Direito, porque sempre foi uma coisa distante pra mim. Eu nunca tive nem um professor negro, pra ter alguma referência. As pessoas não nos aceitam e a estrutura não nos favorece. Então, nossa luta é para ocuparmos mais e mais espaços. Porque as pessoas não nos aceitam e a estrutura não nos favorece. A gente tem que se afirmar diversas vezes. É um exercício constante de dizer que a gente é capaz. Quando eu estou nesse lugar da Ouvidoria e faço um bom trabalho, como eu acho que fiz e dei minha contribuição, elas pensam que se eu posso elas podem também. E podem mesmo”, analisa.

O futuro? É ancestral. “Eu tenho muito respeito pela minha história. Não aceito ninguém me deslegitimar e desacreditar da minha história e do meu percurso. Porque não é só sobre mim. Eu ter chegado na Ouvidoria não é só sobre mim. É sobre as pessoas que me trouxeram até aqui. É sobre minha mãe e meu pai, que abriram mão de muita coisa por mim. Minha mãe me deu o que eu queria? Não. Me deu o que era possível. E foi com essa gana que eu exerci meu mandato”, conclui.