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“Até o meu sotaque voltou, à medida que a minha autoestima foi resgatada”, diz Andressa ao romper o ciclo de violências

“Até o meu sotaque voltou, à medida que a minha autoestima foi resgatada”, diz Andressa ao romper o ciclo de violências

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A jornalista Andressa Meireles atravessou violências físicas, em mais de dez ocasiões, protagonizadas por um companheiro. O rompimento do ciclo de violências e a superação daquelas situações tornaram-se matéria-prima para um projeto importante nascer. “O que não nos disseram”, uma exposição de fotografias de dez mulheres que viveram situações similares e conseguiram pedir ajuda, está em cartaz na sede Defensoria Pública do Ceará, em Fortaleza. Hoje, elas mostram o rosto, ressignificam dores e buscam ajudar outras vítimas.

Na semana em que são comemorados os 15 anos da Lei Maria da Penha – que tipifica e criminaliza a violência doméstica -, Andressa participou de conversa ao vivo na edição número 101 do projeto #NaPausa, ao lado da defensora pública Kelly Nantua, titular do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem). A jornalista administra a página @oquenaonosdisseram no Instagram, na qual debate e dá visibilidade às diversas violências que atingem as mulheres. “Nos disseram que violência contra a mulher é crime, mas não nos disseram o que é violência”, ela comenta.

“Até o meu sotaque voltou, à medida que a minha autoestima foi sendo resgatada, à medida que esse trabalho foi sendo desenvolvido. Quando a gente fala de violência contra a mulher, a gente não fala só daquilo que deixa marca física. A gente está falando, principalmente, sobre aquilo que deixa marcas invisíveis e que a gente não sabe nem falar a respeito, porque a gente não consegue dar nome. Daí o nome do projeto”, narra Andressa, que trabalha sempre na perspectiva de criar pontes com outras mulheres e fazer com que estas discussões incluam os homens, os mais recorrentes agressores quando se fala em violência doméstica. 

“Esse projeto nasceu de uma dor. Eu preferia poder não falar sobre isso. Eu só sei falar sobre isso porque eu passei por isso. Se eu não tivesse passado por isso, talvez eu ouvisse as mulheres de uma outra forma. O projeto surgiu de uma dor, mas nasceu para que pudesse resgatar a mulher que existe em cada uma de nós”, reforça.

As marcas da violência contra a mulher têm muitas facetas, muito além dos machucados físicos. A Lei Maria da Penha define cinco formas de violência doméstica contra a mulher: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Em julho último, veio a aprovação do Projeto de Lei nº 741/2021 no Senado, que propõe tornar a violência psicológica crime, sendo um novo passo dado neste campo. 

“É muito difícil a mulher se identificar como vítima. Quando o olho ficou roxo, quando atos mais graves passaram a existir é que você se deu conta dessa situação de vítima. Muitas mulheres se mantêm nesse ciclo de violência por anos até que, muitas vezes, acontecem situações de violências bem mais graves, como o feminicídio”, alerta Kelly Nantua, ao que Andressa complementa: “Quando a gente fala de violência talvez esteja falando de um feminicídio inclusive de uma pessoa que segue viva. Quantas mulheres não estão mortas em vida, anuladas, moribundas, vivendo algo que não é mais a vida delas e, mesmo assim, nunca foram agredidas fisicamente, nunca foram espancadas? Mulheres no Ceará passam de cinco a dez anos para fazerem uma primeira denúncia, para falarem a respeito.”

A primeira vez em que Andressa foi agredida fisicamente, ela narra, não foi a primeira vez em que foi agredida. “Quantas vezes não ouvi gritos, humilhações, xingamentos, que quando a primeira agressão física aconteceu, ela silenciou toda a violência psicológica que eu estava sofrendo! A gente precisa discutir a complexidade da violência psicológica. A gente está falando de isolamento, distorção da realidade.”

Para reconhecer uma violência patrimonial, por exemplo, Andressa e Ana Kelly reforçam que a mulher não precisa ser rica ou ter patrimônio robusto. A violência pode estar nas pequenas coisas, como o controle do dinheiro, não deixar a mulher comprar acetona para remover o esmalte, não permitir que ela faça unha ou use um perfume… “Essa questão do perfume é muito comum nos atendimentos do Nudem. Essa manifestação da violência patrimonial quando os agressores danificam objetos pessoais de mulher e o perfume é um dos itens recorrentes. Perfume, celular e maquiagem acabam estando presentes em quase todos os atendimentos relacionados à violência patrimonial no Nudem”, contextualiza Ana Kelly. 

Andressa alerta ainda que as violências domésticas podem partir de outras relações afetivas, como pai, mãe, irmãos, filhos, netos, esposa, paquera, vizinho. Mas a maior parte é reproduzida por companheiros homens contra mulheres. Neste ano, o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos divulgou dados referentes ao ano de 2020 extraídos da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos. O levantamento mostra que o Ceará é o sétimo estado brasileiro quando se fala em denúncias de violência contra a mulher. As violências contra elas foram divididas nas categorias violência doméstica e familiar (com 2.161 denúncias) e todas as outras (992).

As mulheres que precisarem de acolhimento e orientação jurídica podem buscar a Defensoria Pública, por meio do Nudem e do setor de psicossocial. “Discutir as violências contra mulheres é discutir a pluralidade destas violências, para que nós possamos ser mulheres plurais como somos e que isto não nos seja roubado, não nos seja assassinado. A gente fala de violência de gênero para além da marca no pescoço”, arremata Andressa.

SERVIÇO

NÚCLEO DE ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER – NUDEM

Celular: (85) 3108-2986 – 8h às 12h – 13h às 17h

Celular: (85) 98949-9090 – 8h às 12h – 13h às 17h

Celular: (85) 98650-4003 – 8h às 12h – 13h às 17h

Celular: (85) 99856-6820 – 8h às 12h – 13h às 17h

E-mail: nudem@defensoria.ce.def.br

Atendimento Psicossocial

E-mail: psicossocial@defensoria.ce.def.br

Celular: (85) 98560-2709 – 8h às 14h

Celular: (85) 98948.9876 – 11h às 17h

NUDEM CARIRI

Telefone de contato: (88) 9 9314-9903