
Casais que estão em processo de divórcio participam de encontro para reestruturação de laços parentais
“Com a ruptura do laço a gente tem que entender como agir diante dessa situação”, revela Daniel Tomé, que durante 15 anos foi casado e é pai de um adolescente, fruto da relação. Ele lembra que não foi fácil o rompimento do convívio matrimonial de longa data. “Foram 15 anos casados, quase 18 anos de convivência. Então, não é uma separação fácil, embora seja de forma amigável, o rompimento não é tão simples”.
Em busca de auxílio nesse momento delicado da vida, Daniel participou da 8ª edição da Oficina Pais e Filhos, realizada pelo Núcleo de Solução Extrajudicial de Conflitos (Nusol) da Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE). “A ajuda profissional daqui auxilia a viver numa boa ambiência. A estrutura é muito boa, os profissionais são excelentes, e isso vai me ajudar muito nessa nova fase com meu filho”, explicou o assistido da Defensoria. .
O sentimento dele se soma à perspectiva da dona de casa Maria Iolanda do Nascimento. Ela foi atendida pela primeira vez pelo Nusol durante a oficina e enfatiza a importância das formações. “Essa oficina é muito importante para a união da família, espero muitas mudanças boas”.
A ação ocorreu na última sexta-feira (21/10), na sede da DPCE, em Fortaleza. A prática oferece apoio interdisciplinar para famílias assistidas pelo Nusol e tem o intuito de fortalecer e orientar pais, mães e filhos que estão vivenciando a fase de reestruturação após rompimento dos laços conjugais.
As famílias foram acolhidas no auditório da DPCE para um momento de apresentação das ações. Logo após, os adultos, adolescentes e crianças foram separados em diferentes salas para participarem das oficinas sobre divórcio e parentalidade. Pensadas de forma sistemática, o atendimento ofereceu atividades especializadas e voltadas para as diferentes faixas etárias. No total, 42 pessoas realizaram as oficinas.
A defensora pública e supervisora do núcleo, Rozane Magalhães, explica as ações do Nusol no período de reestruturação familiar dos assistidos. “Nós estamos aqui para ajudá-los a enfrentar o divórcio, para poder chegar em um consenso e resolver todas as questões que envolvem os filhos como a guarda e pensão alimentícia. Utilizamos a oficina para auxiliar nesse processo do divórcio amigável, resguardando os direitos das crianças. Nosso objetivo é ajudar essas famílias a refletir sobre essas relações, relação que hoje não é conjugal, mas é uma relação que vai continuar, pois a relação parental permanece”, pontua.
De acordo com a psicóloga e coordenadora do setor de Psicossocial da Defensoria Pública, Andreya Arruda, toda a equipe do Nusol e do psicossocial participaram do momento e estavam ansiosos para o encontro presencial. “Encarar o divórcio de forma adequada é essencial para passar pelos desafios da separação conjugal, ressalta a psicóloga. Nosso trabalho é de restabelecer o diálogo pacifico entre as partes e também trabalhar nas crianças e adolescentes a nova configuração familiar, abordamos linguagens diferentes apropriadas para cada faixa etária”, pontuou Andreya.
Contação de histórias
A formação contou com a participação da defensora pública do Amazonas, Carol Carvalho, que apresentou seu livro “Mediando Vidinhas: Lucas e Laura no mundo das emoções”. A obra aborda os métodos encontrados na mediação para a resolução de conflitos familiares.
Eu vou ter que escolher entre meu pai e minha mãe? Em que casa eu vou morar? A culpa é minha? Esses são os questionamentos que muitas crianças passam. O livro traz os personagens Lucas e Laura, nomes inspirados nos dois filhos da escritora e retrata os sentimentos das crianças diante de situações de conflitos familiares, a obra enfatiza conceitos que contribuem para a inteligência emocional infantil.
Em sua fala a defensora pública compartilhou suas experiências familiares, ela conta que quando criança sofreu consequências pelos conflitos entre os pais, que na época, pensavam no divórcio, isso marcou sua infância trazendo aflições naquele momento, foi assim que surgiu a ideia do nascimento do livro. “Tinha raiva, tristeza, ansiedade, saía do papel de filha e me tornava a mãe deles. A inspiração para esse livro foi a minha própria criança, foi olhar para trás, olhar para minha história e ter vontade de ajudar outras crianças que passaram pela situação que passei. No livrinho a gente aprende como é importante reconhecer o que a gente está sentindo”, reforça Carol Carvalho.
Fazer com que as crianças aprendam a identificar e acolher as próprias emoções, esclarecer os papéis dos pais e filhos durante o divórcio e apresentar o papel do diálogo, são os objetivos da obra. Para a defensora que atua em direito de família desde 2013, as consequências de conflitos familiares, como falta de confiança e sofrimento, podem seguir até a vida adulta. “A consciência liberta, entendi que eu carregava pesos que não eram meus”, comentou. Durante o encontro enfatizou a importância de um ambiente familiar harmonioso para o crescimento saudável de crianças e adolescentes. Após transformar suas dores, ela segue propagando a mediação de conflitos para as relações familiares.
Presenças
Estiveram presentes a secretária executiva do Gabinete da DPCE, Flávia Maria de Andrade, defensora pública e supervisora do Nusol, Rozane Magalhães, defensora pública e diretora da Escola Superior, Ana Mônica Amorim, defensora pública, Maria das Dores Falcão, defensora pública, Juliana Cavalcante, a psicóloga e coordenadora do setor de Psicossocial da Defensoria Pública, Andreya Arruda, Cinira Maria Lopes Silveira, defensora pública do Amazonas, Carol Carvalho, defensora pública, a psicóloga responsável pelas Oficinas do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania de Fortaleza (Cejusc), Mônica Santini e o estagiário da Cejusc, Edson.