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Debate sobre a virtualização da vida e as preocupações com a infância no #NaPausa

Debate sobre a virtualização da vida e as preocupações com a infância no #NaPausa

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Em comemoração aos 30 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o #NaPausa desta quarta-feira (15) trouxe o tema “Violação dos direitos das crianças e adolescentes na internet”, com a participação do coordenador do Instituto Alana e pesquisador na área dos direitos das crianças, Pedro Hartung, e da defensora pública e supervisora do Núcleo de Atendimento da Defensoria Pública da Infância e Juventude (Nadij), Julliana Nogueira Andrade Lima.

Julliana Andrade destacou a importância de abordar um tema tão essencial em tempos de pandemia, onde a internet se tornou a forma principal de interação tanto para adultos quanto para as crianças. “O acesso das crianças e adolescentes já era uma realidade, vemos diariamente na internet conteúdos que são produzidos por eles. Mas, a condição de isolamento acabou potencializando isso e também as vulnerabilidades. Existe um cenário de violação de direitos que precisa de atenção”, frisou.

Para os debatedores tratar dessa temática é algo urgente. Pedro Hartung alerta sobre a hiperdigitalização dos tempos atuais. “A pandemia intensifica o cenário digital,  um processo de hiperdigitalização da vida dos adultos e das crianças também. A internet se tornou o canal principal para viabilizar o relacionamento, mas não podemos deixar de considerar que há também muitos riscos e desafios, já que 89% de crianças e adolescentes são usuários de internet e esse dado vem crescendo cada vez mais”, afirma o pesquisador.

Julliana Nogueira pontua a desigualdade desta universalização. “A virtualização das aulas exigiu um envolvimento ainda maior das crianças e dos adolescentes com o uso da internet, no entanto, nem todos têm acesso”. Pedro Hartung explica que é importante se ater a diferença entre o fato de não ter acesso de nenhuma forma e de não ter um acesso de qualidade. “Existe um apagão digital onde 55% da população brasileira não tem acesso à internet com qualidade. Como uma criança poderá participar de aulas que duram horas sem uma internet que permita isso? Então, mesmo as crianças que não conseguem manter a sua escolarização por não ter um bom sinal de internet ou um computador, não significa que não tenham acesso a outros aplicativos. O acesso não é só utilizar, mas qualidade do acesso e do que se acessa, portanto, promover a proteção das crianças no ambiente digital é essencial”.

“A internet é um canal que disponibiliza diversas oportunidades de produção, brincadeiras, experiências – contatos e trocas com outras crianças e isso é muito potente – amplifique experiências e iniciativas para crianças usufruir de seus direitos e isso exige espaços seguros – um espaço que promova e defenda direitos”, atesta a defensora pública. O pesquisador explica que essa diversidade de atrativos acaba esbarrando em grupos de violações que podem passar despercebidos. “ Existem quatro tipos de violações comuns na internet: a segurança digital, a exploração comercial das crianças, a privacidade e proteção de dados pessoais e os rastros digitais, ou seja, como as informações serão utilizadas para que não acontece uma invasão indevida na privacidade”.

Em meio ao cenário digital, o bate-papo relembrou que as crianças de 0 a 6 anos (primeira infância) carecem de experiências e estímulos pessoais. “São a partir de conexões reais que o nosso cérebro se desenvolve, por meio da relação interpessoal, pelos estímulos que acontecem nas relações. O tempo atual está exigindo adequações, mas não podemos esquecer que precisamos de gente,  especialmente com as crianças. É muito importante e significativo para o desenvolvimento infantil”, salienta Pedro.

Acessando o que? A defensora pública finaliza reforçando o quanto é indispensável tornar esse contato com o meio digital seguro o que torna a participação da família essencial. “As crianças consomem e produzem conteúdos massivamente e essa interação precisa ser acompanhada antes de tudo em casa. Mas, precisamos cobrar também da sociedade e do estado a responsabilização disso, pois é um dever conjunto assegurar os direitos das crianças e adolescentes. Temos grande avanços, mas grandes desafios”.