
Defensoria lança cartilha inédita para auxiliar membros e colaboradores em questões raciais
Texto: Bruno de Castro
Fotos: Ari Feitosa e ZeRosa Filho
A Defensoria Pública do Ceará lançou nesta sexta-feira (25/4) a primeira cartilha da história da instituição para orientar membros e colaboradores(as) sobre questões raciais. O material se chama “E eu, sou o quê? Um pequeno guia sobre (a sua) raça” e foi apresentado durante o seminário comemorativo dos 28 anos da DPCE, realizado no Centro de Eventos, em Fortaleza.
Esse é o primeiro produto elaborado pelo Comitê de Igualdade Étnico-Racial da Defensoria, formado em dezembro do ano passado para promover ações antirracistas. “A subdefensoria dá o suporte, mas todo o protagonismo, construção, ideia e mérito do que está sendo produzido são dos componentes do Comitê. Esse é o primeiro passo de um letramento indispensável pra Defensoria, porque as pessoas que nós atendemos são majoritariamente negras. Então, nós temos que reconhecer em quais circunstâncias essas pessoas vivem, o lugar de onde elas vêm e as crises que elas enfrentam por causa do racismo estrutural. Essa cartilha é um produto que me orgulha muito enquanto defensor”, afirmou o presidente do Comitê e subdefensor geral do Ceará, Leandro Bessa.
Com referências a fatos históricos, estatísticas sobre as cinco raças/cores reconhecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e informações a respeito das características de cada uma delas, a cartilha orienta como membros da DPCE e colaboradores devem se portar diante de situações como: “o correto é chamar de negro ou de preto?”, “se minha mãe é negra, eu também sou?”, “dizer que alguém é moreno é certo?” e “negro e preto é a mesma coisa?”.
A cartilha foi elaborada em linguagem simples, para facilitar ainda mais a compreensão da mensagem. “Esse material vai nos ajudar a não promover micro agressões nas nossas relações no dia a dia e nos atendimentos. É para que a gente cresça e se fortaleça como uma Defensoria antirracista. Para que nossos colaboradores sejam empoderados e, assim, possam também empoderar as pessoas que acolhemos todo dia. Quando cada um de nós entender a própria raça, a gente vai poder avançar ainda mais”, analisou a defensora Rayssa Cristina Santiago.
A secretária estadual da igualdade racial, Zelma Madeira, parabenizou a Defensoria pela coragem de pautar um tema ainda hoje difícil de ser debatido na maioria das instituições. “Para pautar a igualdade racial num país que não tem sequer unanimidade de que é racista e que quem é racista é quem pauta o debate, isso aqui é muito avanço. Ah, se todas as defensorias tomassem esse mesmo caminho… As instituições deve deixar de ser monocromáticas para representar a realidade da sociedade, que é de maioria negra. Então, ter uma cartilha como essa é muito importante porque mostra que o combate ao racismo é tarefa de todos e não só das pessoas negras”, afirmou.
Ao enaltecer a relevância da cartilha, a defensora geral, Sâmia Farias, lembrou que a pauta antirracista é frequente na DPCE e, inclusive, mobilizou a instituição em 2022, quando a lei estadual de cotas sofreu ataques e quase foi derrubada. “Para mim, enquanto mulher branca, foi muito difícil falar em nome dos movimentos nessa situação. Mas ficou evidente: quando eu falava, eu era ouvida. Mas quem deviam ser ouvidos eram os movimentos negros”, disse, prevendo que o guia racial do Comitê vai qualificar ainda mais a atuação dos defensores e das defensoras.
Já a ouvidora geral externa da Defensoria, Joyce Ramos, acredita que a cartilha pode ajudar membros e colaboradores da DPCE a compreenderem as origens das desigualdades sociais, pois elas são predominantemente raciais. “Já que a Defensoria se coloca como casa do povo, a gente deve saber que povo é esse. Porque falar de um povo não é algo imaginário. No caso do Brasil, é entender que a gente está falando principalmente de pessoas negras”, pontuou.
A cartilha será fornecida a todos os defensores e colaboradores da Defensoria, em lançamento oficial dia 16 de maio. A versão digital já está disponível no site oficial da DPCE na Internet e pode ser baixada de graça.
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