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Família é a que se emociona junto! Pessoas trans vêm com irmãos, pais, amigos e namorados receber a nova certidão

Família é a que se emociona junto! Pessoas trans vêm com irmãos, pais, amigos e namorados receber a nova certidão

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“Eu vim acompanhar ela. Em todo canto que ela quiser que eu vá, me convidando, eu vou. Com todo prazer. O importante é estar com ela”, declara Maria Luiza Araújo (62), uma mãe orgulhosa da conquista da filha Rafaela (23) que está hoje (30/6) realizando o sonho de receber sua nova certidão de nascimento. A conquista foi possível graças ao Transforma, mutirão promovido anualmente pela Defensoria Pública do Ceará (DPCE) para alterar nome e gênero nos registros. A Rafaela é uma das 206 pessoas travestis e transgêneros contempladas pela iniciativa. 

Para Maria Luiza, o sentimento em relação à filha é de orgulho. Orgulho não só pela jovem ter corrido atrás de realizar seu objetivo, mas principalmente por ela ter a coragem de ser quem realmente é. À Rafaela, a mãe deseja apenas poder estar sempre ao seu lado para dar todo o apoio e acolhimento que somente o afeto materno consegue dar. 

“Não tenho um pingo de vergonha dela, nem nada. Faço é ajudar. Quando ela vai sair, ajudo ela a se vestir com as roupas; ela pergunta como é que tá, eu digo que ela tá bem, tá bonita. O meu desejo é que ela consiga mais e mais o que ela quer, que realize todos os sonhos que ela tem. Ela tem vontade de viajar, sair. Se é isso o que ela quer e Deus tomar a frente, eu tenho mais é que dar apoio”, afirma a mãe de Rafaela. 

Davi, de 22 anos, fez presença na vida de Brianna Freitas (30) a pouco tempo. Os primeiros contatos foram à distância, através de um jogo eletrônico que permitia a interação entre equipes para ocupar e defender suas torres no mapa. Nesse ínterim, os dois se aproximaram e desfrutaram juntos de uma luta muito significativa na vida real: a afirmação de Brianna como uma mulher trans. 

“Conheci ela já no processo de transição e pude entender os dois lados da Brianna, tanto da família quanto dos amigos. É muito interessante que ela esteja fazendo essa troca de nome e gênero na certidão, porque a família dela ainda a chama pelo nome morto, enquanto os amigos tratam ela pelo nome e pronomes corretos. Há 1 ano, tenho visto essa luta de uma mulher trans para ser inserida no meio social, principalmente na parte da família. Independente de tudo, estou aqui para dar acolhimento e o amor que ela precisa”, relata Davi, que sonha em se casar com a namorada no futuro.

Por outro lado, a convivência estabelecida ao nascer foi a força que os irmãos Daniele (21) e Eden (19) Santiago Brito encontraram para superar o preconceito e afirmarem ao mundo quem realmente são. Daniele é uma mulher trans e Eden uma pessoa não-binária. O dia 30 de junho foi significativo, em especial para Dani que recebeu sua certidão retificada com nome e gênero através do Transforma. Desde a descoberta do mutirão, o irmão uniu forças para concretizar o direito da irmã, enquanto os pais, conservadores, nunca prestaram apoio. 

“É difícil colocar em palavras esse momento, porque infelizmente eu não consegui fazer a retificação agora, mas estou aqui com a minha irmã, apoiando-a no meio de tanta gente como nós. Não encontramos tantos lugares assim, que nos façam sentir seguros. É emocionante. Eu realmente estou muito orgulhoso da minha irmã, de verdade. A retificação é só o começo para a Dani”, enaltece o irmão em lágrimas nos olhos. 

Ter o apoio da família num dia como esse é essencial para que o momento se torne ainda mais especial. Pensando nisso, Diagnis Carneiro (33) veio acompanhando a esposa Aisha Abreu (32), que recebeu a nova certidão de nascimento na ocasião. Elas trouxeram os dois filhos do casal para que a companheira saiba que jamais estará sozinha em nenhuma fase de sua vida, assim como não esteve nos 12 anos em que as duas estão juntas compartilhando sonhos, planos e objetivos. 

Eu acho que é importante porque nem sempre a família tá do lado, né? Nem sempre a família apoia. Ter alguém próximo que entende como isso é importante pra ela, ajuda, dá força pra pessoa, pra conseguir ir atrás. Talvez ela não tivesse conseguido fazer sozinha, sabe? Eu gosto de fazer parte, poder tá junto”, reforça Diagnis sobre a importância de se ter uma rede de apoio. 

O amor que Diagnis sente por Aisha trouxe-a ao auditório da Defensoria Pública, onde aconteceu a entrega das certidões de nascimento das 157 pessoas contempladas no Transforma, mas também pôde ajudar a esposa a se entender e se aceitar. “Ela não era uma pessoa que tinha tanto gosto por si e eu sempre a amei muito. Então, quando ela descobriu esse lado eu apoiei e investi bastante, fiz o que podia pra poder ela conseguir realmente ser mais feliz”, finaliza a jovem.