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“Nos enxerguem para além do mês do orgulho, porque a gente existe todos os dias”, diz Thabatta Pimenta

“Nos enxerguem para além do mês do orgulho, porque a gente existe todos os dias”, diz Thabatta Pimenta

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Única parlamentar trans do Nordeste e convidada de honra do Transforma, a ativista potiguar Thabatta Pimenta destacou a necessidade de pessoas trans e travestis serem respeitadas pela sociedade não apenas em datas especiais. “Que nos enxerguem para além do mês da visibilidade e para além do mês do orgulho, porque a gente existe todos os dias.”

Ela reivindicou que haja mais diversidade nos espaços, especialmente nos públicos, quanto às identidades de gênero e orientações sexuais. Só assim, de acordo com Thabatta, teremos um país menos desigual e com uma expectativa de vida melhor para pessoas trans. No Brasil, a média é de apenas 35 anos (enquanto uma mulher heterossexual (que se atrai pelo sexo oposto) e cisgênero (que se identifica com o sexo biológico) pode viver até 80 anos).

“As nossas estão morrendo todos os dias. E a gente não quer isso. A gente quer respeito. A gente quer política pública. A gente quer acessar a educação do jeito que a gente merece. A gente quer muitas mais de nós na política! Porque nossos corpos trans são atacados e violados a todo momento, e a sociedade acha que a gente vai falar apenas pela bolha onde querem nos colocar. Mas meu papel é maior”, declarou.

Irmã de um homem com deficiência, a vereadora tem não só a causa LGBT como bandeira. Na verdade, foi a pauta anticapacitista que a levou para a política e tornou-a, em 2020, a primeira travesti eleita vereadora na história do Rio Grande do Norte. Por isso, ela recordou do quão importante foi o momento no qual ela retificou a certidão e todos os demais documentos.

“Eu revirei a minha cidade pra que entendessem que era direito nosso ter o nome que a gente escolheu pra gente. Porque é isso o que a gente quer: ser reconhecida. Então, não é sobre Thabatta. É sobre muitas e muitos. A gente só está chegando agora porque muitas pessoas morreram pra gente chegar nesses espaços. Quantas vidas se foram, não é mesmo? Então, ver um trabalho como esse da Defensoria me enche de emoção”, frisou a parlamentar.

 

 

A ativista qualificou o Transforma como “grandioso”, principalmente porque “a gente sabe como é difícil pra nossa comunidade acessar nossos direitos”. Apesar de reconhecer a importância e necessidade da retificação, ela ponderou que ter documentos com o nome e o gênero corretos não impede nenhuma pessoa trans de sofrer preconceitos. “Mas é uma forma de a gente ser entendida como quem somos”, comparou, pontuando que milhões de pessoas trans e travestis ainda não têm documentação retificada e também devem ser respeitadas e ter direitos assegurados.

Thabatta sugeriu: “uma única pergunta resolveria tudo. Bastaria a pessoa dizer: como você se identifica?”. Assim, ela salientou a urgência de serviços públicos respeitarem a maneira que as pessoas trans e travestis querem (e têm o direito de!) ser chamadas. Isso, inclusive, é algo previsto em lei (seja pelo nome social ou por provimentos de retificação documental).

“A certidão nos ampara. Nos acolhe. Então, já é um peso a menos pra tudo o que a gente vai viver. Que as pessoas se coloquem no lugar de cada uma de nós. Que repensem os seus conceitos. Porque nós queremos e vamos ser protagonistas das nossas histórias e você não precisa ser uma pessoa trans, travesti, LGBT, com deficiência ou preta pra lutar com a gente. Basta ser humano de verdade”, enfatizou.

A ativista criticou ainda o contraditório existente entre o fato de o Brasil ser o país onde mais pessoas LGBTs são assassinadas e, ao mesmo tempo, ser o país no qual mais se consome pornografia com pessoas trans. “Quem está errado aí? É uma sociedade hipócrita, que não se enxerga e quer nos matar. É isso o que a gente vai mudar em todos os espaços com as nossas presenças. Estamos ocupando hoje pra que outras meninas não passem pelo o que a gente já passou.”