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Pode haver final feliz: Mãe reencontra filho desaparecido há dois anos

Pode haver final feliz: Mãe reencontra filho desaparecido há dois anos

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Um longo abraço, lágrimas nos olhos e paz no coração. Foi assim o reencontro entre a dona de casa Maria Gomes e o filho Jorge Dalvan Gomes Braga. O homem desapareceu em dezembro de 2021, enquanto estava internado em uma clínica de reabilitação, em Caucaia. Após longo período, a família finalmente encerrou o vazio que durou quase dois anos.

“Não tem nome para esse sentimento. Voltar a abraçar o meu filho foi a maior emoção que já senti em toda a minha vida. Eu rezava e pedia a Deus para guiar os meus passos até o meu filho e guiar os passos dele até os meus. Deus ouviu o meu clamor, minhas preces, orações e me devolveu meu filho”, revela Maria Gomes que percorreu a dura caminhada até reencontrar o filho.

À época, a mãe foi ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Fortaleza, para fazer o boletim de ocorrência e fez o registro também na Delegacia de Iparana, em Caucaia, onde o filho desapareceu. Todos esses meses ela voltou até o local em que foi visto pela última vez.

“Eu queria dizer para todas as mães que têm um filho sumido que não desistam, que vão atrás, que lutem. Eu me mudei de onde eu morava pra ficar mais perto de procurar por ele,  porque a minha vida tinha acabado longe dele. Eu me mudei pra Fortaleza pra ficar mais perto. Teve muito anjo que me ajudou: o delegado Erivaldo nunca me  desamparou, sempre me acolhia; o dono da clínica, o Fernando; a colaboradora lá do IML, a Gabriela. Nunca vou esquecer deles porque sempre fui acolhida , sempre estavam com as mãos estendidas”, relembra Maria.

A mulher foi acompanhada pela equipe do Núcleo de Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas, da Secretaria de Direitos Humanos do Estado do Ceará. “Durante esses anos que o filho estava desaparecido, ela chegou a ter informações de que ele estava no Parque Leblon, um bairro em Caucaia, mas não conseguiu localizar na época. Há pouco mais de um mês, mãe e filho se reencontraram. Sabemos que ele estava muito debilitado, mas a família está cuidando dele e com o coração cheio de esperança para um recomeço, porque é muito raro ter um caso assim. Foram quase dois anos desaparecido e a história teve um final positivo”, pontua Christiane Alencar Benevides, psicóloga do núcleo.

Ela frisa que, muitas vezes, ao ver um andarilho, uma pessoa em situação de rua, uma pessoa com dependência química ou com comprometimento da saúde mental temos que nos lembrar de remeter a história por trás daquela condição. “Por vezes, veem um andarilho qualquer e nem sempre são capazes de imaginar que ali pode haver uma família desesperada em busca por notícias. Estamos acompanhando também uma mulher, cujo filho de 26 anos, esquizofrênico, sumiu há quase um mês. Ela diz que queria ser invisível, porque todo mundo pergunta por ele. Tem mães que dizem que enterram o filho todo dia. Então, essa dor do luto é constante e quando encontramos um caso de um final feliz, como o da dona Maria, nosso coração é reaquecido”, pontua a psicóloga.

“Foi exatamente isso que eu passei. Eu conheci o meu filho, mas outra pessoa não o reconheceria, porque não era aquele que sumiu da clínica. Ele estava velho, uma barba grande, suja, mas eu reconheci, vi que era ele. Tudo isso foi Deus, foi Deus quem cuidou dele esse tempo todo, foi Deus quem ficou ali pegando na mão dele e na minha, porque eu já estava me sentindo no fim, mas nunca perdi a fé”, conta  Maria.

Ao longo desse período, buscar grupos de familiares auto-organizados de pessoas desaparecidas e organizações da sociedade civil que atendem pessoas que passaram por situações de violência é uma forma de auxiliar a compartilhar os sentimentos que envolvem o desaparecimento.

No Ceará, através do seu escritório em Fortaleza, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) colabora e presta assessoria técnica às autoridades com o objetivo de apoiar a implementação de mecanismos de busca eficazes. O CICV destaca que uma boa resposta ao desaparecimento depende da articulação de diversos órgãos e políticas, por isso a coordenação interinstitucional é essencial. Neste sentido, iniciativas como o Comitê Estadual de Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas são muito importantes.

“O impacto do desaparecimento de um ente querido ainda é pouco compreendido. O isolamento dos familiares impactados no âmbito familiar, comunitário e social é uma de suas consequências.  Além do sofrimento psíquico e do impacto na saúde física, é comum que o desaparecimento provoque consequências de ordem administrativa e jurídica para as famílias. A Defensoria é um órgão que pode ajudá-las”, destaca Daniel Mamede, assessor técnico do CICV”.

O CICV também acompanha grupos de familiares de pessoas desaparecidas, a fim de compreender suas necessidades e apoiá-los, como o grupo Mulheres de Fé com Esperança. O Comitê observa que para lograr uma resposta integral às necessidades das famílias, é necessário uma abordagem multidisciplinar e um treinamento específico para os agentes públicos que irão trabalhar com este público.

A Defensoria Pública do Estado do Ceará também está inserida no Comitê Estadual de Enfrentamento ao Desaparecimento e empenhada em chamar a atenção para o assunto.

“Precisamos chamar a atenção para essa temática, porque ainda não temos uma política pública no âmbito da autoridade de busca mais efetiva nesse sentido. E aí começa a luta dos familiares para ser ouvida pela autoridade policial, a luta das famílias para que a delegacia possa fazer uma diligência, a luta das famílias que vão por conta própria nos hospitais, na Pefoce, pegando informaçõe por conta própria, para tentar fazer ou encontrar essa pessoa, quando na realidade essa busca é de responsabilidade do Estado. Cabe ao Estado fazer essa busca, acionar as entidades de assistência, hospitais, mas na realidade quem faz isso são os familiares”.

Enquanto isso, histórias como a de  Maria Gomes que reencontrou seu filho acalenta o coração de quem está passando por uma situação semelhante. Na esperança do reencontro.

“Eu queria dizer para todas as mães que um filho sumido que não desistam , que vá atrás, que lute, que faça como eu, porque a minha vida tinha acabado longe dele. Eu sei que muitas mães ainda vão encontrar os seus filhos. E esse sentimento não dá pra descrever, não dá pra gente dizer o que é que sente quando você recebe o abraço do filho há dois anos sumido. É coisa de Deus”, pontua Maria das Dores.

Saiba Mais

A Defensoria criou uma cartilha de apoio aos parentes e familiares. Clique aqui para acessar. O material oferece um passo a passo e está dentro da campanha Desaparecidos, uma ausência presente. Assinam conjuntamente Defensoria Pública do Ceará, Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Estado do Ceará (SSPDS), Secretaria de Direitos Humanos, Ministério Público do Ceará, Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce), Polícia Civil do Estado do Ceará, a Assessoria Especial da Vice-Governadoria e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).

Serviço
Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas da Defensoria Pública do Ceará
Av. Senador Virgílio Távora, 2184, Dionísio Torres. Telefone: (85) 3194-5049

12ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP)
Endereço: Rua Juvenal de Carvalho, nº 1125, bairro de Fátima, Fortaleza/CE.
Telefone: (85) 3257-4807
E-mail: 12dp.dhpp@policiacivil.ce.gov.br
Instagram e Facebook: @desaparecidosdhppce

O Ministério Público atua pelo Centro de Apoio Operacional da Cidadania – CAOCIDADANIA
Endereço: Av. Antônio Sales, 1740, Dionísio Torres, Fortaleza/CE
Telefone: 85 3252-6352

Núcleo de Apoio às Vítimas de Violência (NUAVV)
Endereço: Avenida Desembargador Moreira, 2930 A, 2o andar, Bairro: Dionísio Torres, Fortaleza/CE
Telefones: (85) 3218-7630 / 9 8563-4067

Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos do Ministério Público do Estado do Ceará (PLID)
Email: plidce@mpce.mp.br
WhatsApp: (85) 9.8685-8049

Núcleo de Enfrentamento ao Desaparecimento de Pessoas da Secretaria dos Direitos Humanos
Endereço: Rua Valdetário Mota, 970, Papicu – Fortaleza, CE.
Telefone: (85) 9 8439-3459