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Quarta edição do “Qual é a dúvida” aborda os desafios das pessoas com deficiência

Quarta edição do “Qual é a dúvida” aborda os desafios das pessoas com deficiência

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Uma edição extraordinária do quadro “Qual é a dúvida? “ foi ao ar na tarde desta sexta-feira(19.05). Desta vez, a temática da live, que foi ao ar no Instagram da Defensoria Pública do Estado do Ceará (DPCE), está alinhada com a campanha da Associação Nacional dos Defensores e Defensoras Públicas (Anadep) “Defensoria Pública: Em Ação pela Inclusão”, que tem apoio do Condege e firma o compromisso da Defensoria com a pauta da acessibilidade, da inserção e do anti capacitismo.

Foram convidadas para a transmissão a defensora pública do estado de Rondônia, Flávia Albanie, coordenadora da Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Anadep e a assistente social, Eduarda Albuquerque, atualmente colaboradora do projeto Laços de Família. Eduarda tem deficiência visual e usa suas redes sociais para compartilhar dicas de maquiagem. Juntas, debateram com a jornalista da Assessoria de Comunicação, Alana Araújo, os conceitos do capacitismo, seu formato estrutural, a acessibilidade em locais públicos, a banalização das deficiências e as dificuldades no mercado de trabalho. 

De acordo com a defensora, o capacitismo estrutural está enraizado na sociedade atual. Ele aparece de maneira velada e pode passar, muitas vezes, despercebido. “O capacitismo é um termo novo, ele é utilizado para designar essa violência estrutural contra a pessoa com deficiência. E por que é uma violência estrutural? Porque é uma violência sistemática, não é um caso isolado. É uma violência que ocorre de forma reiterada, de forma sistêmica em diversos lugares, de diferentes maneiras. Ela pode ser velada nos diferentes ambientes, no trabalho, na família, no lazer, no espaço educacional, no acesso aos serviços de saúde…” pontua. 

Flávia Albanie frisa que a acessibilidade vai muito além do enfrentamento às barreiras arquitetônicas, já que existem também as barreiras comunicacionais e atitudinais. “A acessibilidade não é só a arquitetura física, ela tem um conceito muito mais amplo. Assim como o conceito de barreira. O que são barreiras? Barreiras são toda e qualquer situação que impede ou dificulta o exercício dos direitos fundamentais das pessoas com deficiência. Elas podem ser barreiras na arquitetura, podem ser na comunicação, nos transportes e, principalmente, atitudinais que são aquelas provenientes da atitude humana de preconceito, de discriminação. Então a acessibilidade ela vem para romper ou, pelo menos caso não consiga romper,  amenizar possibilitando que as pessoas com deficiência consigam exercer os seus direitos e deveres em condições de igualdade com as demais”, discorre. 

Já a colaboradora do projeto Laços de Família, descreveu como lidou com o processo de auto aceitação e como tinha receio das outras pessoas não acreditarem no seu potencial. “Eu iniciei na internet falando de maquiagem, então eu queria de uma certa forma ‘maquiar’ para que as pessoas não descobrissem que eu tinha deficiência visual, até porque era a frase da minha cabeça ‘Quem iria dar credibilidade a uma mulher que enxerga pouco?’ Até porque a maquiagem é uma coisa extremamente visual. Só que acabou que as pessoas foram percebendo por eu não olhar fixamente para câmera, às vezes, eu borrava, às vezes, não enxergava o que estava fazendo. As pessoas foram percebendo”, destaca a maquiadora.

E conta que sua família a incentivou a contar aos seguidores. A decisão, então, a permitiu enfrentar o preconceito de frente e aceitar quem era e que poderia, sim, existir e ocupar o mundo. Com quase mil visualizações, o vídeo “A história do meu problema de visão” foi publicado em julho de 2017 e até hoje está entre os mais acessados do canal. Nos comentários, muitas mensagens de apoio e de identificação. Ao falar sobre si e suas limitações, Duda entendeu que sua voz poderia ajudar outras pessoas, elevando a autoestima de outras dezenas de “Dudas” ao longo do caminho.

Eduarda ainda contou aos seguidores da Defensoria como foi o seu processo de adaptação dentro da instituição. “Fazendo parte da equipe psicossocial a gente viu que, por conta das demandas, eu precisava de um computador e a professora Cláudia (coordenadora da Uninta) foi articulando uma máquina que tivesse os recursos que eu precisava para trabalhar. Antes, na minha adolescência, em outras experiências que eu tive, eu tinha que me adaptar à metodologia das pessoas. Então eu vim muito nessa raiz de ‘ah, eu preciso me acostumar, eu preciso me adaptar’ e era sempre uma tensão muito grande”, desabafa. Mas a sua percepção de mundo também mudou. “Hoje eu posso dizer: como é bom você encontrar um espaço acessível, encontrar um espaço inclusivo onde você determina as suas limitações, o que você não pode, ou não pode dentro das suas limitações”, conclui.