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“Só queremos viver direitinho, estudar, ter lazer e uma vida em paz e feliz”

“Só queremos viver direitinho, estudar, ter lazer e uma vida em paz e feliz”

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Desde 2004, o Brasil comemora anualmente o Dia Nacional da Visibilidade Trans em 29 de janeiro. A data existe não apenas para denunciar o preconceito, a falta de afeto, a violência, a escassez de oportunidades e as estatísticas cruéis que assombram a vida de travestis e pessoas transexuais. É um marco temporal para celebrar a existência, a resistência e a luta dessa comunidade. É preciso não apenas questionar o porquê de a sociedade ainda ser tão resistente à diversidade de gêneros e corpos. Além disso, é urgente respeitar.

A palavra ‘‘diversidade’’ tem se tornado cada vez mais popular. No entanto, é visível que persistem o desconhecimento e o preconceito sobre questões de gênero e orientação sexual. Daí a necessidade urgente de falar (ainda) sobre o tema. Nos últimos dias, com a presença da travesti, cantora, compositora, atriz e ativista social Linn da Quebrada no maior reality show do país, o assunto ganhou pauta na grande mídia, mostrando a importância de corpos trans ocuparem mais espaços de visibilidade. “Sou o fracasso. O fracasso de tudo que queriam que eu fosse. Não sou homem nem sou mulher. Sou travesti”, disse a cantora.

Quem também tornou o fracasso em recomeço foi a caririense Brendha Vlazack, de 45 anos. Em 2009, ela renasceu e externalizou a mulher que sempre existiu dentro de si, permitindo conquistar um nome condizente com a própria mulheridade: Brendha Alves Feitosa. Após décadas sofrendo com o machismo do pai e de uma família homofóbica, ela enfim se libertou e remodelou a estrutura física masculina que ainda a aprisionava.

Um novo ciclo se inicia: a transição. Após anos de batalhas, Brendha conseguiu o que não foi possível para muitos que a antecederam. Hoje, ela é uma mulher trans com curso superior. Foi a primeira a se formar em serviço social no Cariri. Atualmente, é transativista, coordena e contribui com diversos conselhos, fóruns, ONGs e associações da região com ênfase nos direitos da população LGBTQIAP+.

 

 

“Vivenciei noites difíceis com minhas amigas trans e prostitutas. Tive que realizar programas, usei perucas até meu cabelo começar a crescer. Certo dia, contaram aos meus pais que o filho deles estava nas esquinas se prostituindo e vestido como mulher. Mas, na verdade, não era o filho vestido de mulher. Era o filho tentando se encontrar na sua real identidade de gênero. Não me encontrei naquele local, mas pude vivenciar e presenciar as fragilidades e riscos sociais que a nossa população sofre no âmbito da prostituição. Não foi fácil nem se tornou mais fácil, mas sou mais forte do que era antes. A Brendha que hoje eu sou foi se lapidando durante muitos anos”, sentencia.

Ela lembra que um dos momentos mais marcantes na luta pelo direito de existir ocorreu em 2013, quando recebeu o convite para ser madrinha da Parada do Orgulho LGBT, tendo a oportunidade de receber a faixa de Pâmela Pamaneck, assassinada a tiros em 2017. “Na ocasião, em frente à prefeitura da minha cidade, eu fiz um discurso para centenas de pessoas e a população trans e travesti que estava ali percebeu que estava ganhando uma representante que lutaria pelos seus direitos”, conta. “Desde então, eu não parei mais. Dou minha cara à tapa, vou na mídia, estou envolvida, sou uma verdadeira leoa. Afinal, só queremos viver direitinho, estudar, ter lazer e uma vida em paz e feliz”, acrescenta.

Quando questionada sobre seu maior sonho, ela afirma: “Já consegui realizar vários! Tenho o meu cantinho, minha casa própria, minha faculdade, meu emprego, mas quero muito passar pelo processo transexualizador. Sei que não é ausência de órgão femininos em mim que vai diminuir a minha condição de ser mulher, mas é um desejo meu. No entanto, os sonhos a gente vai correndo atrás e consegue, né?”, finaliza.

A Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE) inicia nesta segunda-feira (24/1) a série “Visibilidade Trans”, em alusão ao Dia Nacional da Visibilidade Trans. Todos os dias até a próxima sexta-feira (28/1), histórias de pessoas trans serão contadas aqui. Amanhã (25/1) será a vez de Lena Oxa.