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“Somos todos racistas, aprendemos a ser racistas. Isso não quer dizer que não temos a responsabilidade de lutar contra isso”

“Somos todos racistas, aprendemos a ser racistas. Isso não quer dizer que não temos a responsabilidade de lutar contra isso”

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Aconteceu nessa quarta-feira (30) a edição 99ª do programa #NaPausa. A transmissão ao vivo através do instagram da Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPGE) contou com a participação da Doutora em psicologia social, professora e ativista antirracista, Lia Vainer Schucman e a defensora pública do Ceará e assessora de relacionamento institucional, Michele Camelo. Elas, mulheres brancas, debateram um assunto muito necessário nos dias de hoje: “O papel da branquitude no combate ao racismo”. A mediação foi feita pela jornalista Alana Araújo, que faz parte da equipe da assessoria de comunicação da DPGE. Para conferir à live na íntegra, acesse o instagram da Defensoria, clicando AQUI.

Em sua participação, Lia trouxe provocações pertinentes sobre os privilégios simbólicos e materiais da branquitude e nos convidou a refletir qual a responsabilidade e o lugar do branco na luta antirracista. Vale ressaltar que a especialista traz em sua bagagem dois livros que abordam o assunto: “Entre o encardido o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo” e “Famílias Interraciais: tensões entre cor e amor”. 

“O que é branquitude?” Essa pergunta feita pela defensora pública, Michele Camelo norteou o diálogo entre elas. “Muitas vezes, entendemos branquitude como o sinônimo de pessoas brancas, mas, não é. Uma pessoa não tem poder porque é branca. A cor da pele dela, não dá poder. O que deu poder foi uma construção histórica e ideológica feita em cima dos significados do que representa ser branco. Muitos pensam que branquitude é um lugar de poder e de vantagens na sociedade. No entanto, a constituição histórica torna essa característica um poder.” A professora conta que, é fundamental entender que esse é um termo que só faz sentido dentro da luta antirracista. “Ser branco é um lugar de conforto. Sinônimos são recebidos pela parcela branca da população ao nascer. Recai sobre elas a ideia de beleza, de competência, de inteligência, de superioridade. Qualquer pessoa branca é beneficiária dessa estrutura.”, acrescentou Lia Vainer Schucman.

“O racismo precisa ser retirado da ideia moral. Somos todos racistas, aprendemos a ser racistas. Isso não quer dizer que não temos a responsabilidade de lutar contra isso”, lembra Lia. Para as convidadas, o protagonismo da luta contra o racismo é sem dúvidas da população negra. Contudo, os brancos podem ser aliados importantes. 

Ela detalhou que é muito difícil as pessoas assumirem-se como parte do problema. Pois, é ensinado e aprendido que o racismo é um problema moral. “A ideia de que, se eu sou uma pessoa boa, eu não sou racista. Não é assim que funciona; as pessoas no Brasil aprendem a ser racistas. Não é uma adesão, é algo estrutural, aprendemos com o mundo”, afirmou a professora. Após a defensora Michele Camelo, lembrar que muitos indivíduos questionam-se que o uso das cotas raciais favorecem a população negra, a especialista responde, “Na verdade, nós brancos devemos agradecer ao negros, pois graças à luta deles pelas cotas racias, hoje os brancos podem usar também as cotas socias”, frisa.

A defensora lembra de um caso que presenciou que envolve racismo estrutural e institucional e lamenta ao afirmar que é algo cotidiano nos órgãos de justiça. “Lembro de uma vez que duas pessoas foram presas por estarem portando drogas. Um estava de bicicleta e com uma quantidade menor, já o outro, era branco, estava em um carro e com maior quantidade de drogas. No entanto, o que chama atenção é o fato de que embora o homem estivesse com mais drogas, ele foi liberado no mesmo dia. Isso é errado, mas infelizmente é a realidade do nosso País.” 

Elas concordam que casos como o citado anteriormente são muito comuns no Brasil e no mundo e lamentavelmente continuarão acontecendo. “Enquanto não houver uma mudança na mentalidade das pessoas racistas, o racismo prevalecerá. Lembro de quando comecei a estudar, eu não tinha colegas negros. Hoje eu dou aula na faculdade que estudei e em todas as salas, existem estudantes negros. Isso sem dúvidas é um avanço, mas em contrapartida a polícia nunca matou tanto. Assim, muito ainda precisa ser mudado.”, finaliza Lia.