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30% das mulheres que buscaram ajuda da Defensoria no Cariri viviam em situação de violência há mais de 10 anos

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O Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem) no Cariri é uma conquista da sociedade civil, solicitado no Orçamento Participativo e instalado em meados de 2018. Os dados preliminares das violências diagnosticadas pelo Nudem, em uma da regiões que enfrenta os maiores índices de violência contra a mulher no Estado, apontam que 30% das mulheres que buscaram o equipamento, instalado no Crato, entre junho e dezembro de 2018, vivenciaram violência doméstica por mais de 10 anos. Em alguns casos, quase 20 anos antes de conseguirem denunciar e buscar assistência jurídica, psicológica e social da Defensoria Pública. O levantamento contou com a participação de 66 mulheres.

Em sua maioria, as mulheres apontaram sua ocupação como dona de casa (33,3%) e dizem conviver com diversas faces da violência, sendo a violência psicológica presente 97% dos casos. Violência moral, física, patrimonial e sexual, em ordem decrescente, são os tipos de violações que acometeram as estas mulheres.

Elas apontaram que não conseguiam romper o ciclo de violência por conta das diversas dependências: emocional, em 68,2% dos casos, familiar (65,2%) e medo (59,1%). “A questão da dependência familiar é muito preocupante, pois se trata do receio da mulher de romper aquele ciclo de violência principalmente em razão dos filhos. Outro motivo que elas também trazem ao Nudem é a família naturalizar a situação de violência como algo passageiro e que faz parte do relacionamento”, explica o supervisor do Nudem Cariri, o defensor Rafael Vilar. Dados como escolaridade: 28,8% têm ensino médio completo e econômicos: 53% ganha até um salário mínimo (53%) ajudam a recortar as dependências do companheiro agressor.

Um outro dado relevante mostra que 76,9% delas nunca vivenciou situações de violência na casa dos pais. Ou seja, são ciclos novos para elas. Mas quando levantamento aponta para ele, a estimativa é que mais agressores vivenciaram uma situação de violência na casa dos pais: 31,8% das respostas foram positivas. “Vivenciamos nesse momento, uma perpetuação da violência. É uma violência transgeracional, onde o agressor passa a naturalizar as agressões por já ter passado por aquilo durante a infância”, aponta Vilar.

No perfil do agressor, o estudo aponta que são os ex-companheiros (48,5%) que praticaram o ato violento em ambiente doméstico (56,1%) em maioria na presença dos filhos (80,3%) durante a agressão. Entre os motivos que desencadearam a cena, estão a ingestão de álcool, ciúmes, uso de drogas e separação.

Um dado alarmante trazido no levantamento é referente à Lei Maria da Penha. Cerca de 40,7% dos agressores já foram enquadrados na Lei, antes da vítima procurar o Nudem em 2018. “O homem também é peça importantíssima na trama da violência doméstica, é necessário ser feita uma movimentação que trabalhe com esse homem agressor, para que a situação não seja reincidente. Se você escanteia o agressor da responsabilidade e compreensão da agressão, isso vitimiza mais mulheres. É preocupante”, reforça Vilar. ele aponta que 100% dos agressores das mulheres pesquisadas encontram-se em liberdade.

Lei Maria da Penha – Mais do que um panorama sobre o ciclo violento imposto a muitas mulheres, os dados fornecem ainda um indicativo do conhecimento acerca da lei. Das 66 mulheres, 78,8% já conheciam a Lei Maria da Penha e sabiam do seu funcionamento. Nesse contexto de denúncia, no entanto, 43,9% não pretendem representar criminalmente. “Geralmente, elas chegam aqui querendo resolver pendências específicas, como guarda, pensão e divórcio. Prolongar o processo em uma representação criminal irá acentuar a situação, elas querem paz”, pondera Vilar.

Serviço:

Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher – Nudem Cariri

Travessa Iguatu, 304, CEP 63122045, Santa Luzia, Crato Ceará.