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Defensoria Pública realiza audiência pública para debater situação precária no Hospital Regional de Iguatu

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A Defensoria Pública do Estado do Ceará realizou nesta quarta-feira (31.05) uma audiência pública na cidade de Iguatu para debater a situação do Hospital Regional de Iguatu. A audiência é fruto de uma inspeção realizada pelo Grupo de Trabalho da Saúde da Defensoria Pública, além do trabalho cotidiano dos defensores da região, que identificou uma situação alarmante na unidade, envolvendo falta de profissionais, estrutura comprometida, falta de materiais e até mesmo o não funcionamento da unidade de tratamento intensivo (UTI) neonatal, o que ocasionou a morte de mais de 15 recém-nascidos somente no ano de 2017.

A audiência pública foi conduzida pela defensora pública e supervisora do Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa), Nelie Aline Marinho e contou com a presença dos defensores Eduarda Paz e Souza, Lara Teles Fernandes, Muniz Augusto Freire Araújo Evaristo, Nelie Aline Saraiva Marinho, Paulo César Oliveira do Carmo, Ramylle Maria de Almeida Holanda e Sheila Florêncio Alves Falconeri.

“A finalidade dessa audiência pública foi definir e explicar quais os motivos, o que encontramos na inspeção e discutir com a população e com os gestores aqui presentes o que podemos fazer para melhorar a saúde do município”, ponderou a defensora pública Nelie Aline Marinho.

Após uma apresentação realizada pelas defensoras públicas Lara Teles, Ramylle Holanda sobre a inspeção realizada com fotos do local e depoimentos coletados, a defensora pública Eduarda Paz apresentou um relatório feito pela vigilância sanitária falando sobre a precária situação do equipamento de saúde.IMG_4463

O secretário de Saúde do município, Marcelo Sobreira relatou a situação do hospital e o que será feito para melhorar. “Nós não tínhamos Hospital Regional e ainda não temos, pois há muito ainda a ser feito. Precisamos discutir com as categorias que integram o sistema de saúde. A casa de parto não pode funcionar por falta de estrutura, uma vez que não está ligada ao Hospital, mas já estamos realizando a licitação de uma passarela fazendo essa ligação. Vamos fazer uma reforma na UTI, como foi determinado pela vigilância sanitária”, explicou.

A principal cobrança da população diz respeito a necessidade urgente de uma UTI neonatal, como destacou Naiara Martins de Almeida, representante das mães das crianças recém nascidas que faleceram recentemente no município sem assistência ou tratamento. “Passei mais de 40 minutos sozinha, IMG_4508largada no hospital, precisando ir ao banheiro, com muitas dores e não tinha ninguém, nenhuma enfermeira para me ajudar, perguntar se eu estava bem, se precisava de alguma coisa. Após o nascimento do meu filho, ele esperou mais de 12 horas por uma transferência para uma UTI neonatal, porque aqui em Iguatu infelizmente não existe nenhuma. Eu fiquei no corredor esperando um leito, a maca não tinha nem um lençol e tive que aguardar minha família trazer a roupa de cama e esperar autorizarem a subida de algum familiar para me dar assistência. Depois de tudo isso, mandaram meu filho para Fortaleza em uma ambulância sem nenhuma condição, o oxigênio era amarrado por uma corda, quando chegou em Itaitinga o oxigênio secou e não tinha uma chave na ambulância para fazer a troca, meu filho começou a ter paradas cardiorespiratórias. Meu filho precisava de socorro e o município foi negligente ao mandar uma criança nessa situação”, relatou.

O diretor médico do Hospital Regional, Roberto de Sousa Mendonça atribuiu o não funcionamento da UTI neonatal a falta de profissionais especializados. “Hoje nós não temos nenhum neonatologista em Iguatu, temos alguns pediatras com residência e depois que você faz pediatria você tem que passar mais três anos fazendo neonatologia. Na história do Hospital, apenas um neonatologista esteve aqui por uns 3 anos, mas saúde não basta apenas começar, tem que continuar”, explicou o médico.

Outras reclamações da população foram a falta de materiais básicos de saúde, como foi relatado pelo representante do Sindicato dos Comerciários de Iguatu, Claudemir Brito, “ano passado presenciei um atendimento no qual a enfermeira aplicou um soro com as mãos nuas, sem luvas e sem máscara. Percebi que ela tinha medo de perder o emprego”. A falta de profissionais na área da ortopedia também foi questionada pela população.IMG_4532

A Defensoria Pública apresentou durante a audiência pública, pelo defensor Muniz Freire, um Termo de Ajustamento de Conduta ao município, com os seguintes encaminhamentos: fixação de prazo de 15 dias para análise do TAC proposto, oficiar ao CREMEC a fim de que este informe a existência de médicos neonatologistas; oficiar à Secretaria de Saúde do Município e à Direção do Hospital Regional de Iguatu para que informem acerca das providências adotadas diante da alegação de que houve uma licitação para aquisição de equipamentos para UTI neonatal e foram entregues equipamentos incompatíveis para uso na UTI neonatal.