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Qual o limite da exposição virtual na vida de adolescentes?

Qual o limite da exposição virtual na vida de adolescentes?

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Ao longo desta semana, a Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (DPCE) divulgou uma série de matérias destacando a campanha “Por mais consciência digital: respeito faz bem para todes”. Campanha realizada em parceria entre o Centro de Justiça Restaurativa (CJR), o Instituto Terre Des Hommes Lausanne no Brasil (TDH) e a agência Brado, do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7), com o objetivo de sensibilizar a população sobre crimes virtuais em uma abordagem restaurativa e de responsabilização de todos os envolvidos.

Renato Pedrosa, presidente do Instituto Terre des Hommes Brasil, destaca que “a campanha alerta para a importância da educação digital. Assim, os jovens devem se organizar para fazer uso das redes sociais de forma disciplinada e responsável. Ao mesmo tempo, os pais e/ou responsáveis precisam acompanhar as crianças e adolescentes para uso das plataformas digitais de forma moderada e serem agentes de transformação social. As escolas também são convidadas para se engajarem na campanha”, destaca.

A proposta  propõe processos que resultam em acordos de resolução de conflitos entre as partes e contribuem para a cultura de paz. A campanha já abordou dois assuntos: “Cyberbullying: a vida real não é meme”  e  “Nudes vazados causam dores no mundo real”. Hoje, a discussão será sobre qual limite da exposição virtual para crianças e adolescentes.

De acordo com pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), em 2018, aproximadamente 24,3 milhões de crianças e adolescentes brasileiras com idade entre nove e 17 anos tiveram acesso à Internet. Outro dado do estudo apontou que 65% das crianças entre nove e dez anos utilizam a Internet mais de uma vez por dia. Esse percentual é ainda maior em adolescentes de 15 e 17 anos de idade (81%). Quando analisada a presença dos entrevistados na Internet, a pesquisa mostrou que 22 milhões de adolescentes de 15 a 17 anos relataram usar e ter um perfil nas redes sociais.

O cenário pandêmico mudou drasticamente a dinâmica das famílias. Além de aprender a lidar com um novo formato de trabalho, muitos pais tiveram também que realizar tarefas domésticas, cuidar dos filhos e auxiliá-los nos estudos on-line. Durante o isolamento, inúmeras crianças e adolescentes aprenderam a viver ainda mais colados em aparelhos eletrônicos, expostos às mídias e estão passando muito mais tempo expostas ao uso excessivo do computador, televisão e smartphone.

Especialistas alertam sobre a importância de estabelecer limites. “O uso da Internet envolve riscos como o contato com estranhos e exposição a conteúdos sensíveis e inadequados, aumentando as chances de crimes virtuais e pedofilia. Uma forma de proporcionar maior segurança aos usuários teens são ferramentas que pais e responsáveis limitam o tempo de uso, bem como restringir o acesso a conteúdos que consideram inapropriados. A melhor maneira de prevenir crimes e ataques virtuais é a conscientização”, esclarece a coordenadora do serviço psicossocial da DPCE, psicóloga Andreya Arruda Amendola.

Cabe aos pais dialogar com os filhos sobre regras e práticas da Internet e o compartilhamento de dados com outras pessoas, a fim de estabelecer um uso responsável e saudável das redes sociais. De acordo com a psicóloga, adolescentes que se expõem por meio de nudes (imagens da pessoa nua) e acreditam que, ao enviarem a foto, a pessoa do outro lado será cuidadosa, o que normalmente não acontece. Essas imagens podem durar anos e aparecer no futuro. A disseminação dessas fotografias pode ainda resultar em outros dois problemas: a sextorsão e o cyberbullying.

“O primeiro é quando a pessoa que detém essa foto passa a chantagear ou extorquir o fotografado. Já o segundo é a versão digital da violência, a humilhação e a agressão cometida contra uma pessoa. Crianças e adolescentes não têm ferramentas para lidar com decepções e frustrações. Isso pode levar à tristeza, à ansiedade e, em casos extremos, ao suicídio. Tirar a própria vida em decorrência do cyberbullying é frequente, mas muitas vezes isso não é notificado”, complementa Andreya Arruda.

A Defensoria já atendeu adolescentes envolvidos nessas situações por meio do Centro de Justiça Restaurativa. Segundo a coordenadora do CJR, defensora pública Érica Albuquerque, o objetivo da Justiça Restaurativa é resolver conflitos reais a partir da horizontalidade entre as pessoas envolvidas.

“Se um adolescente pratica um ato infracional, no processo da justiça tradicional ele será responsabilizado e receberá uma medida socioeducativa, se não houver a aplicação do instituto da remissão pura. Para a justiça restaurativa, a prática do ato lesivo não infringe apenas a lei, mas principalmente fere pessoas que precisam ser cuidadas. Nesse sentido, não se olha para o passado apenas para resolver o conflito com uma punição. O olhar para aquele fato lesivo é para que nós possamos enxergar as pessoas no presente, como elas estão e o que elas precisam. E, a partir daí, no mesmo grau de horizontalidade, será construída a responsabilização para o ofensor, com a sua participação, bem como será decidido conjuntamente o que as pessoas afetadas, incluindo a vítima e a comunidade,  necessitam para seguirem bem. De que forma o dano pode ser reparado, inclusive o emocional, de que forma sentimentos (como medo, insegurança, etc) e necessidades identificadas serão acolhidos por todos. Nesse processo restaurativo, nós conseguimos muitas vezes resolver os reais conflitos e não apenas o conflito aparente, alcançando a redução da violência e a paz social”, exemplifica.

Prevenção ainda é a palavra de ordem quando se fala em armadilhas que crianças e adolescentes estão expostos com o mau uso das tecnologias. A boa e velha conversa ainda é a melhor opção para alertar sobre os cuidados que se deve ter ao navegar pela Internet. “É preciso falar e explicar abertamente o que significam esses termos e quais as consequências que eles podem causar. Para casos de crianças ou adolescentes que já foram alvo dessas ações, a recomendação é o acolhimento. Adolescente não tem probleminha, só problemão. A grande questão dessa idade é que ele está com o cérebro em fase de amadurecimento, o que aumenta a distância para os adultos. Essas crianças vítimas têm que ser acolhidas. Elas estão no limite e se os pais aumentam a pressão em uma hora dessas é um perigo”, finaliza Érica Albuquerque.

SERVIÇO
Os atendimentos estão acontecendo de forma presencial, por agendamento.

NÚCLEO DE ATENDIMENTO DE JOVENS E ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI – NUAJA
Celular: (85) 98948-9267 (Whatsapp)
E-mail: nuaja@defensoria.ce.def.br

CENTRO DE JUSTIÇA RESTAURATIVA(CJR)
Celular: Ligue 129 / (85) 98895-5715 / 98415-0003 – Segunda a Sexta-feira – 8h às 17h
E-mail: cjrc@defensoria.ce.def.br
Localização: Rua Tabelião Fabião, nº 114, Presidente Kennedy – CEP: 60355-515