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“Sinto a força da mulher que me tornei”

“Sinto a força da mulher que me tornei”

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O sonho de se reconhecer além do espelho, mas, principalmente, na rotina da vida social, por meio do nome civil, faz parte da luta de tantas mulheres e homens trans e travestis. Durante a manhã desta quinta-feira (30.6) o auditório da sede da Defensoria em Pública em Sobral foi palco do Transforma – o I Mutirão de Retificação de Nome e Gênero de Pessoas Trans da Defensoria Pública, que oportunizou para 53 pessoas o acesso ao esse direito.

Júlia Lima, aos 19 anos, realizou o sonho de ter o seu registro de nascimento com o gênero e o nome com os quais, de fato, se identifica. “Transformar tem a ver com não se cansar. Representa a garra de quem não desiste. O mutirão da Defensoria Pública oportunizou esse florescer para mim e tantas outras aqui presentes, sem falar nas que ainda virão”.

A caminhada marcada pelo medo e insegurança deram lugar a uma mulher determinada, que tomou posse da sua verdade e assumiu sua identidade. “As dificuldades em ser trans são grandes. O preconceito olha pra gente todos os dias. Eu não tinha coragem de enfrentar isso, mesmo me sentindo uma mulher desde cedo. Só que chegou uma hora que não sustentei mais essa mentira e gritei: vocês vão ter que me chamar pelo meu nome e o meu nome é Júlia! Mudei minhas roupas e, a partir daí, consegui me olhar no espelho e saber que aquela imagem era realmente a minha. Agora tenho em mãos minha certidão e os próximos passos serão ainda maiores. Sinto a força da mulher que me tornei”, destacou Júlia..

A autodeclaração é legalmente suficiente para as pessoas que têm interesse na retificação. Sendo maiores de 18 anos a solicitação da alteração de nome e gênero pode ser feita diretamente nos cartórios, conforme estabelece o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

A questão é que para de fato existir é preciso ter um nome e ser conhecido por ele com dignidade e respeito. O direito ao nome é fundamental. Esta ausência na vida de Alexsandre Malheiros, 18 anos, fez com que ele abandonasse os estudos, pois não conseguia lidar com os episódios frequentes de preconceito dentro da escola. A fisionomia masculina se chocava com o nome matriculado. O conflito de identidade fez com que, para se preservar, optasse por se isolar. “São muitos sentimentos dentro da gente. Quando consegui mesmo me aceitar tudo começou a fazer sentido. Acabou com toda a confusão que existia dentro de mim e comecei um momento de autodescoberta. Tive medo, muitas perguntas começaram a tomar a minha mente, mas não desanimei. Fui em frente e conquistei o apoio da minha família que me acolheu e deu muita força”, ponderou.

Com o nome retificado, ele diz que os planos são voltar à escola e construir seu futuro. “Vou voltar, concluir o ensino médio e logo quero estar cursando faculdade de psicologia. Não quero perder tempo, vou correr atrás dos meus sonhos, porque agora a minha vida começou!”, comemorou.

Com força e resistência, Jady Cavalcante driblou os contratempos e batalhou por suas conquistas. Após uma infância dentro de um colégio de freiras, Jady, que sempre se reconheceu como mulher, adentrou no mundo dos eventos, da moda e da dança. Destemida, voltou-se para os estudos e começou o curso de enfermagem. Atualmente está no último semestre de sua graduação e almeja se especializar em sua área e alcançar conquistas profissionais. “Aos 42 anos, vou ter acesso à certidão que expressa a minha verdade. Sempre fui Jady e vou poder ser reconhecida assim dentro do meu trabalho, na minha faculdade, em todos os lugares. O mutirão é uma iniciativa que fala sobre respeito, sobre dignidade, uma iniciativa que possibilita a nossa revitalização, levanta a nossa autoestima. É um passo que abre caminho para futuras e grandes conquistas. Avante!”, comemora.