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Sou mulher e fui vítima de violência. E agora?

Sou mulher e fui vítima de violência. E agora?

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Dênia, de 39 anos, dormiu na noite de sábado ainda com fortes dores em sua mão, pois após uma discussão seu companheiro, ele tentou matá-la. A dona de casa conta que precisou de quatro pontos em sua mão, pois ao tentar se defender, o companheiro cortou sua mão com uma faca de cozinha. “Fui na UPA no mesmo dia, logo depois que ele saiu de casa. Tomei os medicamentos, coloquei os pontos, tive um bom atendimento, e ficou tudo bem, embora acredite que tenha perdido a sensibilidade dos dedos”. O tom dramático da história e entrecortado pelo medo. “E se ele voltar?”.

Confira o vídeo o que fazer em caso de violência domestica

O drama de milhares de mulheres começa assim. Às vezes inclusive termina. Segundo um recente levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em quatro estados, revelou que houve aumento de feminicídio no mês de março com o país já em pandemia do novo coronavírus. E o lugar mais perigoso é dentro de casa.

A pesquisa ainda fez um importante mapeamento da violência registrada nas redes sociais por vizinhos e desconhecidos. Tendo em vista a dificuldade que mulheres encontram para fazer denúncias de violência por conta do isolamento, a percepção destes agentes externos sobre os episódios faz com que seja crucial para salvar vidas.

Pela pesquisa do FBSP, aumentou nas redes sociais estas evidências de que terceiros, principalmente vizinhos, muitas vezes notam casos de brigas e violência. Um universo de pouco mais de 52 mil menções no Twitter sobre briga entre casais vizinhos, indicam um aumento de 431% entre fevereiro e abril, ou seja, os relatos de brigas de casal com indícios de violência doméstica aumentaram quatro vezes.

Mais da metade dos relatos (53%) foram publicados apenas no mês de abril. Exemplos como “os vizinhos estavam brigando e ele bateu na mulher, eu não consigo ouvir isso e não sentir vontade de chorar, parece que eu sinto na pele tudo o que ela está sentindo”. ou “gente os vizinhos estão brigando e a mulher dele tá berrando e to preocupado pq ta bem pesado já vou ficar com o telefone da polícia”.

“Por conta do maior tempo próximos, muitas vezes as desavenças são ainda maiores e isso gera a violência doméstica. Nós tivemos a preocupação de como essa mulher poderia entrar em contato conosco e conseguimos implantar um sistema de escuta, em que as colaboradoras do Nudem atuam de forma a dar a cada uma das vítimas um atendimento humanizado, tranquilo, de forma a ajudar, de verdade, aquela mulher, que pode ser vítima de violência física, sexual, verbal, psicológica e/ou patrimonial”, destaca a defensora Jeritza Lopes, supervisora do Nudem Fortaleza.

 

 

Quando houver a violência física, os defensores orientam a denunciar o mais rápido possível, para que haja a prisão em flagrante e o agressor seja levado até uma delegacia. Daí, o número 190 deve ser acionado, em primeiro plano, pela vítima, vizinhos ou parentes. Caso a violência seja de outra forma (psicológica, sexual, patrimonial, emocional) ou mesmo física, caso demore a denunciar, ainda assim esta vítima deve buscar auxílio na rede de apoio. Em Fortaleza, existe a Casa da Mulher Brasileira, onde estão reunidos diversas instituições de retaguarda. Para o interior que não há, geralmente, estrutura como a Casa da Mulher Brasileira, é importante ligar para a Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência. “Ela entra em contato através do número 180 e eles a orientam acerca de toda a rede, seja Defensoria Pública ou outro órgão que atua no enfrentamento à violência doméstica naquela cidade”, afirma o defensor Rafael Vilar, supervisor do Nudem Cariri.

O defensor público ainda ressalta que é mais que necessária a proteção dessas mulheres. “Com o isolamento, com toda problemática atual, é imprescindível o cuidado no atendimento a cada mulher. Além de toda a rede, a Defensoria tem atuado, seja em Fortaleza ou no interior, para resguardar o direito de cada uma dessas mulheres e destacamos aqui, também, o auxílio e suporte que as pessoas mais próximas devem dar a elas, seja os amigos, os parentes ou vizinhos”.

Neste mês de junho, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) lançou em parceria com a Associação dos Magistrados do Brasil (AMB) uma campanha em favor das vítimas de violência doméstica, a Campanha Sinal Vermelho. O Colégio Nacional de Defensores Públicos (Condege) assina campanha que orienta que as mulheres que estejam passando por uma violência e estejam impossibilitadas de ir à Delegacia façam um X na cor vermelha em sua mão e apresentem o sinal em uma farmácia que aderiu a campanha. Os atendentes irão auxiliá-la a realizar a denúncia. No Ceará, as redes Extrafarma, Farmácias Pague Menos, Drogasil e Santa Lúcia Farmácia aderiram a campanha.

Medidas Protetivas de Urgência – Quando uma mulher sofre uma violência, a Lei 11.340 de 2016, mais conhecida como Lei Maria da Penha, exemplifica uma série de medidas protetivas que podem ser aplicadas para proteger esta vítima de uma nova violência, seja ela física, psicológica, moral e sexual. A medida diz respeito a manter um distanciamento real do agressor da vítima, sob pena de prisão do mesmo em caso de desrespeito. Em 2018, foram registradas 5.282 medidas protetivas só em Fortaleza. Durante a pandemia, é possível fazer o pedido da medida protetiva da mesma forma: na Delegacia de Polícia, na Defensoria Pública ou por meio do Ministério Público.